Há duas semanas, o cantor Luan Santana surpreendeu os fãs ao anunciar que abandonaria o sertanejo, gênero no qual consolidou sua carreira, para se dedicar ao tipo de música que realmente amava: o heavy metal.
Como se soube depois, o anúncio não passava de um teaser (uma espécie de provocação, para chamar atenção do público) da campanha publicitária de uma marca de chocolates.
Que pena! Penso que teria sido muito interessante se a mudança fosse verdadeira. Não necessariamente do ponto de vista musical, mas pelo que representaria para tantas pessoas que conhecem o trabalho do cantor.
Se a notícia fosse real, significaria que Luan, após muitos anos pavimentando uma carreira de sucesso com músicas românticas, algo que pessoalmente não lhe agrada, estaria pronto para realizar uma transição de carreira, que o levaria a trabalhar com a música que de fato aprecia, o heavy metal.
Seria instrutivo e exemplar para seus muitos (e decepcionados) fãs perceber que esta é uma possibilidade na carreira de todas as pessoas.
Nem sempre trabalhamos com algo que nos dá prazer. Ou, mesmo que tenhamos prazer com o trabalho, muitos de nós carregamos conosco sonhos profissionais que não conseguimos realizar.
Se realmente fosse fã de heavy metal, Luan Santana poderia ter dado uma lição de planejamento de carreira: dedicou-se ao estilo que o consagrou, teve sucesso, e, com isso, conseguiu estabilidade para finalmente entregar-se a sua paixão.
Muitos profissionais permanecem imóveis em carreiras que, embora bem-sucedidas, não lhes trazem alegria. Tentam convencer-se de que o trabalho não deve mesmo ser fonte de prazer, mas, ao contrário, um sacrifício (algo fácil numa sociedade que traz consigo a força e o peso da tradição judaico-cristã. Ganhar o pão pelo suor do próprio rosto é um dos castigos impostos por Deus aos nossos primeiros pais transgressores). Levados ao trabalho por contingências da vida (financeiras, familiares), alheias a seus gostos e interesses pessoais, essas pessoas mantêm seus sonhos em gaiolas.
Uma celebridade que ousasse abrir mão de tanto sucesso, arduamente conquistado, mas não plenamente satisfatório do ponto de vista pessoal, em nome da realização de suas mais sinceras aspirações, talvez ajudasse a arejar o pensamento de alguns desses profissionais.