Em primeiro lugar, peço ao eventual leitor as mais sinceras desculpas.
Esse é um daqueles textos em que o título mais esconde do que revela.
Minha resposta à pergunta lá de cima é simples: Não sei.
Cada pessoa, em cada situação, deveria vivenciar o luto pelo tempo necessário à elaboração da perda.
Mal sei como lidei com meus próprios danos, nunca poderia prescrever uma fórmula geral…
Aquilo que somos é um amontoado (mais ou menos) organizado das experiências significativas que tivemos com inúmeras pessoas, com quem mantivemos relações simbolicamente importantes.
Pois bem. Quando uma dessas pessoas se vai, leva consigo um pouco (ou muito) de nós. Mais que isso, quando uma dessas pessoas morre, cessam as possibilidades de novas experiências significativas com ele ou ela. O que passou, passou, e o futuro não há. Finalmente, mas não menos relevante, quando perdemos alguém nos lembramos de nossa própria finitude.
Algumas perdas são mais, outras menos significativas; algumas pessoas são mais, outras menos hábeis em lidar com a ausência. E isso é só o que se pode dizer.
Creio que o respeito à subjetividade do fenômeno do luto seria natural se não vivêssemos numa sociedade que nos exige a rápida superação das emoções consideradas “negativas”…
Minha nonna (avó materna) perdeu o marido quando tinha cerca de 50 anos. A partir de então, ela e os filhos passaram a usar exclusivamente roupas pretas, em sinal de reverência à perda do esposo/pai. Dos filhos, ela exigiu que o hábito perdurasse, ao menos, alguns meses; ela mesma, porém, foi muito além. Sua devoção ao preto durou décadas.
Quando faleceu, aos 84, havia recentemente aberto algumas pequenas exceções na paleta de cores de suas vestes, como tons de cinza e marrom, desde que discretos.
Em seu tempo e espaço, ela não era uma exceção. Ao contrário, dela não se esperava outra coisa.
Hoje, a história que conto pode despertar nos leitores – com toda justiça – um viés sexista: se o marido a tivesse perdido, teria ele guardado luto pelo resto da vida?
Mas não é essa a questão que me chama a atenção nesse momento.
O que me provoca é que alguém tenha simbolizado luto por 4 décadas, sem nunca ter sido condenada por isso.
Imagino que alguém que passasse hoje pela mesma situação seria rapidamente incentivado a largar os rituais e “viver a vida”.
(Tenho certeza que minha nonna viveu sua vida da maneira como quis).
A despeito das exigências sociais por velocidade (um tempo atrás ouvi uma conversa entre duas pessoas: “você precisa sair dessa, já faz um mês!”), cabe a nós decidir qual o nosso tempo, quais os meios e quais os rituais que nos farão compreender um pouco melhor nossas próprias perdas.
Não se permitir o luto é como engolir sem mastigar: a digestão fica mais difícil.
Sem o tempo da elaboração, a dor da perda não pode ser (re)significada, e permanece como um “corpo estranho” em nós, que não nos deixa seguir em frente sem pagar o preço dos sintomas…
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