Em 1972, os pesquisadores Naftolin, Ware e Donnelly, da Universidade do Sul da Califórnia, realizaram um experimento muito interessante.
Contrataram um ator profissional e o fizeram se passar por professor, ministrando aos estudantes uma palestra sobre um tema aleatório.
Apresentado como um dos maiores especialistas no tema abordado, o fictício “Dr. Myron L. Fox” foi instruído a palestrar seu conteúdo de modo envolvente, animado e com pitadas de humor.
Acontece que esse conteúdo era cheio de falhas: era irrelevante para os alunos, contraditório, tinha frases desconexas… enfim, não fazia sentido algum!
O ator apresentou-se de forma tão eloquente e cativante que conseguiu captar a atenção dos ouvintes.
Ao final, a palestra recebeu ótima avaliação dos alunos, que a consideraram bem organizada, claramente apresentada e estimulante.
O efeito que levou os ouvintes a concordar com ideias absurdas, deixando-se levar por uma espécie de encantamento, provocado pela sensação de estar diante de uma autoridade, aliada ao carisma do apresentador, ficou conhecido desde então como “sedução educativa”.
Ora, mas o que isso tem a ver com saúde mental?
Os estudantes gostaram muito da experiência, mesmo que não tenham aprendido muita coisa.
O carisma e a empolgação do ator levaram os sujeitos a aderir a um conteúdo absurdo e sem sentido, do qual não seriam capazes de extrair praticamente nada de importante.
O mesmo ocorre com muitas “técnicas inovadoras” utilizadas por profissionais (muitos, como o ator do experimento, sem qualquer formação relevante na área).
Pessoas são submetidas a sessões, individuais ou coletivas, com gritos, dança, choro, repetição hipnótica de frases e palavras específicas, massagens, questionários etc., muitas vezes sem saber que estão diante de práticas sem embasamento prático-teórico e/ou científico.
Quando alertadas a respeito desse fato, porém, algumas delas dizem: “Nossa, pra mim funcionou! Fez muito bem!”
Cuidado: no curto prazo, essas práticas podem levar a uma sensação de bem-estar que pode ser facilmente confundida com “melhora”, ou, até mesmo, com “cura”.
Contudo, passada a primeira empolgação, percebe-se que nada de concreto realmente aconteceu (exceto uma perda financeira geralmente considerável…).
Mas a coisa é ainda mais grave: hoje já existem diversos relatos de pessoas que passaram por esses procedimentos, não validados pelo corpo de conhecimentos da Psicologia, e apresentaram pronunciada PIORA de seus sintomas.
Independentemente do carisma e da aparente autoridade no assunto apresentada por um profissional que ofereça técnicas inovadoras, que prometem curas quase milagrosas, é necessário que o usuário de serviços de saúde mental tenha consciência de que a formação do psicólogo envolve, NO MÍNIMO, 5 anos (pra ficar apenas na duração da graduação) de estudos, prática supervisionada, estágio, leituras, trabalhos pessoais etc.
No Brasil, o trabalho com saúde mental é mal regulamentado. Há poucas leis e, as que existem, são bastante permissivas.
Há muitas instituições que formam “terapeutas” em cursos livres (sem qualquer exigência formal de organização), com estudos que se realizam, por exemplo, em um ou dois finais de semana. Há cursos de formação 100% online, com carga horária inferior a 100 horas-aula (tempo de uma única disciplina de um curso de graduação).
Legalmente, não cometem nenhuma irregularidade…
Mas a qualidade dos profissionais formados é obviamente – e pra ser elegante – discutível.
Todo cuidado ainda é pouco.
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