Em artigo anterior, abordamos a Personalidade Narcísica (LEIA AQUI).

Assim como o narcísico, o sujeito de Personalidade Histriônica tem uma necessidade constante de atenção e estima. Porém, enquanto o narcísico parece não se empenhar para que isso aconteça, afinal tem razoável certeza de sua grandiosidade (e, portanto, se vê como merecedor da atenção que recebe), o histriônico não mede esforços para seduzir e atrair as pessoas a sua volta.
Alguns autores tratam a Personalidade Histriônica como derivada da antiga Histeria.
A histeria foi compreendida pela psicanálise freudiana como uma doença de conversão (em que humores e energias de origem psíquica eram canalizados para o corpo). Sua manifestação estava basicamente restrita às mulheres, e estava relacionada a dinâmicas tipicamente femininas, de onde recebeu seu nome – do grego hysteron = útero.
Ocorre que, desde a etimologia, o termo histriônico aponta para outra direção. A palavra latina histrionicus significa “relativo a um ator”, e, por abrangência, comediante, farsista ou palhaço.
O mais provável é que a histeria, como compreendida antigamente, tenha se perdido no tempo das catalogações psicológicas e psiquiátricas, enquanto o histrionismo tenha mantido seu vigor. Embora tenham características que permitam sua aproximação, não parece prudente dizermos que são a mesma coisa.
A Personalidade Histriônica carrega em si a marca da “teatralidade”. Tudo é vivido é demonstrado de modo exuberante, intenso, por vezes caricato. Seus comportamentos são excessivamente dramáticos, emotivos, enérgicos, manipuladores e sedutores.
Também costumam ser pessoas ingênuas, crédulas, com baixo limiar de frustração, forte dependência e instabilidade emocional.

PENSANDO A ORIGEM DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA
Uma das tônicas do comportamento histriônico é a manipulação.
Vejamos um exemplo simples:
Uma criança está no supermercado com a mãe, e lhe pede que compre um pacote de biscoitos. Por qualquer motivo, a mãe lhe nega o pedido.
Minutos depois, a criança começa a chorar, silenciosamente. A mãe percebe e quer saber o porquê. Então, a criança diz: “Todos os meus amigos da escola já experimentaram aquele biscoito, menos eu. Por isso, fiquei triste”.
A mãe vai até a gôndola e pega o tal pacote de biscoitos.
O que aconteceu?
Diante da impossibilidade de satisfazer um desejo, a criança criou uma estratégia. Para executar seu plano, contou uma mentira, cujo objetivo era sensibilizar a mãe.
Funcionou.
É possível que ela venha a desenvolver novas estratégias de manipulação no futuro, e compreenda que essa é uma forma (mais) efetiva de conseguir aquilo que deseja.
O exemplo acima é simplório. Há questões éticas (de valores) envolvidas, há a educação dos cuidadores. A ideia é apenas mostrar que comportamentos sedutores e manipuladores podem ser incentivados nas crianças sem que os adultos tenham consciência de que o estão fazendo.
Pelos tipos de mecanismos de defesa envolvidos, é provável que a Personalidade Histriônica comece e se formar muito precocemente no desenvolvimento psicológico da criança.
Há autores que apontam, por exemplo, a repetição de rejeições vindas da mãe.
Há quem a considere uma fixação fálica ou genital, no sentido das fases do desenvolvimento psicossexual proposta por Freud. Há quem a considere uma fixação mais primária, de cunho oral.
UMA SOCIEDADE HISTRIÔNICA

Nas redes sociais, é fácil perceber a valorização de comportamentos superficiais, meramente aparentes e exagerados. São ambientes em que “parecer/aparecer” equivale (ou é até mais importante) do que “ser”.
Por outro lado, só pode aparecer quem tem seguidores/contatos/amigos suficientes para que suas postagens sejam vistas, curtidas, comentadas etc. Assim, pessoas que querem ser “influenciadoras”, nessas plataformas digitais, criam estratégias de atração de novas audiências, sempre mais exageradas e exuberantes: teatrais, no sentido a que nos referíamos acima.
Creio que podemos dizer que o papel dessas interações sociais “virtuais” na vida contemporânea traz consigo um traço histriônico, farsesco.

CRITÉRIOS CLÍNICOS PARA DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNO
Quando o “modo de ser” afeta negativamente, de maneira importante, a vida da pessoa e de quem a cerca, dificultando a convivência e trazendo conflitos, é possível recorrer ao diagnóstico de Transtorno de Personalidade Histriônica.
Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), o Transtorno de Personalidade Histriônica pode ser diagnosticado clinicamente por profissional capacitado e habilitado, quando o paciente demonstrar ao menos 5 (cinco) dos sintomas a seguir:
– Sente-se desconfortável em situações no qual não é o centro das atenções;
– Interação com outrem é frequentemente caraterizada por comportamento inapropriadamente sedutor ou provocativo;
– Demostra mudanças rápidas e superficiais de emoções e avaliações sobre outrem, principalmente seus críticos;
– Busca ou permissividade de vários parceiros simultâneos;
– Utiliza consistentemente a aparência física e vestimenta (elegante ou ousada), para chamar atenção;
– Tem um estilo de discurso excessivamente impressionável e deficiente em detalhes;
– Demostra dramatização, teatralidade, e expressão exagerada de emoções;
– É sugestionável, isto é, facilmente influenciável por outrem ou circunstâncias;
– Considera os relacionamentos mais íntimos do que realmente o são;
– Desprezo por diagnósticos e teimosia em julgar-se pessoa sã;
– Dificuldade de concentração e na leitura de textos longos, tendendo a superficialidade intelectual.
MANEJO CLÍNICO
A psicoterapia costuma ser o tratamento de escolha para o Transtorno de Personalidade Histriônica, pois auxilia o paciente a tomar consciência de seus próprios recursos para o enfrentamento da situação.
O prognóstico costuma prever um tempo longo de tratamento (até alguns anos), durante o qual os avanços podem ser percebidos paulatinamente.
Terapias em grupo podem ser utilizadas para ajudar as pessoas a trabalhar suas relações interpessoais, mediante a prática de comportamentos e role-playing.

CRP 06/56201-2
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