
Quando nascemos, e durante um bom tempo, tudo é afeto.
Afetos não são apenas abraços e beijinho… Os afetos são a resposta humana a tudo aquilo que nos toca, de fora ou de dentro de nós mesmos.
Dou dois exemplos.
Nosso organismo sente falta de nutrição. Essa falta nos “toca”, ou seja, aparece para nós, sob a forma de uma sensação, a fome. Fome é afeto.
Um amigo se atrasa para o compromisso que agendamos. Sua ausência indesejada me “toca”, me afeta, me deixa preocupado. A sensação de preocupação é afeto.
Falei mais sobre o que são afetos e de onde surgem num texto anterior. Se você não leu, recomendo. É só clicar AQUI.
Estando alinhados em relação ao que significam os afetos, creio que possamos recomeçar: Quando nascemos, e durante um bom tempo, tudo é afeto.
Nós, adultos, consideramos os cuidados dedicados à criança pequena racionalmente (ou seja, como necessários para a manutenção da saúde e do bem-estar dela). Ela, porém, os compreende de maneira afetiva. São contingências que as “tocam” e modificam, dispondo “humores”, modos de estar.
Isso inclui a alimentação.
Ao alimentar-se, a criança pequena não pensa nos nutrientes, nem nas calorias. Ela não pensa em nada. Ela sente (dimensão afetiva, certo?).
Logo, o alimento tem para ela um significado afetivo, e não intelectual / racional. Mais que isso, no começo da vida a criança não distingue o alimento que recebe das outras sensações que ocorrem simultaneamente na situação de nutrição. Estas sensações podem ser de segurança, aconchego, calor, mas também de pavor e insegurança.
Assim, a associação temporal entre os fatos, aliada à imaturidade compreensiva da criança, as levam a aprender que o momento da alimentação / nutrição é, alternativamente, sinônimo de aconchego ou hostilidade.

Agora temos outra condição humana a considerar: compreensões construídas na infância costumam ter raízes profundas em nossa vida psíquica. Muitas vezes, se mantém intocadas mesmo depois que amadurecemos e, em tese, adquirimos consciência / inteligência para reavaliá-las.
Deste modo, a premissa que associa a alimentação a aconchegou ou a hostilidade, construída em momento tão precoce, pode ser levada pela vida afora, até a fase adulta.
Isso não significa que nosso gosto/apetite seja integralmente formado na primeira infância. Lembre-se: a afetabilidade é uma condição humana que nos acompanha enquanto vivemos. Outras (muitas) experiências significativas com a alimentação vão compor nossa relação com a nutrição e os alimentos, em momento de vida diversos.
O modelo infantil, porém, nos permite uma compreensão mais direta do fenômeno, e por isso escolhi abordá-lo aqui.
Em outras palavras, o ato de comer costuma ter implicações afetivas que vão além do que podemos racionalmente conhecer ou controlar (e quantas pessoas sentem raiva disso!).

Por isso, situações afetivamente significativas podem alterar o apetite e o paladar.
Em relação ao apetite, podemos começar a comer mais que o normal, ou menos. Ter uma vontade de comer quase constante, ou perder completamente a fome, a ponto de esquecer de se alimentar.
O paladar pode ser alterado também. Alguém pode sentir um inesperado gosto pronunciado por doces, por exemplo.
A pandemia da Covid-19 é um momento que tem tocado afetivamente cada um de nós, de maneiras diferentes. Por isso, muitas pessoas têm experimentado alterações de apetite e/ou paladar.
Essas mudanças podem ter muitos desdobramentos na vida das pessoas.
Para compreendê-las, é indicado um trabalho individualizado, que possa considerar as condições específicas nas quais foram construídas as preferências de apetite e gosto para cada pessoa.
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