O Novíssimo Semblante da Terapia Online
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O Novíssimo Semblante da Terapia Online

Terapia Online cresce na pandemia

Enquanto algumas atividades econômicas vão sendo retomadas timidamente, e outras ainda aguardam sua vez, um contingente enorme de pessoas tem se utilizado da mais nova ferramenta de autoconhecimento e alívio do sofrimento psíquico disponível: a terapia online.

É bem verdade que o CFP (Conselho Federal de Psicologia) já havia regulamentado a prática em 2018, por meio da Resolução n° 11. Mas, na época, ninguém podia imaginar que, dois anos depois, a oferta e a demanda por este serviço cresceriam de modo tão espantoso.

Consequências de uma pandemia… No início de 2020, o mundo foi impactado com a notícia de que estávamos em perigo, alvo fácil para um vírus altamente contagioso e potencialmente letal.

Foi então que escritórios, comércios, fábricas e outras empresas se esvaziaram. Os consultórios de psicologia, porém, passaram por outro tipo de transformação.

Uma das poltronas ficou vazia, mas isso não inviabilizou o trabalho. Ao contrário, pessoas que nunca haviam passado por uma consulta psicológica começaram a perceber que certas angústias, ansiedades e preocupações, muitas delas desencadeadas pela pandemia e/ou pela situação de distanciamento social, eram maiores do que podiam suportar.

Aos profissionais da Psicologia, restava se adaptar.

O CFP editou uma nova Resolução (4/2020) que fixava normas para aquilo que parecia inevitável: a expansão da oferta do atendimento psicológico online.


USUÁRIOS DA TERAPIA ONLINE

A nova realidade permitiu que a demanda crescente fosse atendida dentro de padrões de segurança sanitária, ao mesmo tempo em que levantou questões inéditas sobre o trabalho psicoterapêutico.

Em primeiro lugar, definiu ao menos três formas como o sofrimento psíquico passou a chegar nessa mais recente “onda”:

1. Problemas “tradicionais”, tipicamente trabalhados em psicoterapia, cuja procura foi incitada/facilitada pela pandemia. Particularmente, perdi as contas de quantas vezes uma primeira sessão começou com: “Faz tempo que eu quero fazer terapia, mas só agora achei que chegou a hora”;

2. Pessoas cujos problemas têm relação direta com a pandemia, mas não foram afetadas de modo drástico pela crise financeira. Nesta categoria, incluo os pacientes para quem o distanciamento social provocou danos importantes ao bem-estar (por exemplo, pessoas que moram sozinhas, cuja rotina começou a despertar intensa sensação de abandono, ou pessoas cuja preocupação com parentes e amigos que descumpriam a quarentena se transformou em crises de ansiedade);

3. Pessoas afetadas pela crise financeira, cujas preocupações estão ligadas ao sustento e às condições materiais imediatas, à incerteza do futuro e à (des)esperança. Essa situação agudiza a apreensão quanto ao aspecto financeiro, ao menos temporariamente, e pode ocultar (levar ao segundo plano) outros problemas emocionais.

Profissionais da saúde estão na linha de frente do combate à Covid-19

É importante fazer menção a uma “quarta categoria”, não tão numerosa quanto as anteriores, mas decisiva no contexto que vivemos: os profissionais que estão na linha de frente dos cuidados com pacientes e vítimas da Covid-19. São profissionais da saúde, como médicos e enfermeiros, e membros dos serviços de apoio, como pessoal de limpeza, vigilância, atendimento ao público etc.

Ainda não temos informações consistentes e sistemáticas sobre o sofrimento psíquico destes profissionais, o que deve surgir em breve, como resultado de várias pesquisas que estão sendo realizadas hoje a respeito.

Podemos, porém, intuir que o cuidado psicológico desses profissionais, tão necessário, esteja sendo dificultado por dois fatores interligados: primeiro, as condições de trabalho extenuantes de muitos desses profissionais inviabilizam a disponibilidade para qualquer outra tarefa que não seja trabalhar, dormir e se alimentar; segundo, existem poucos serviços psicológicos preparados para atender à especificidade deste público (as redes de apoio de que tenho conhecimento são poucas, têm alcance limitado e não têm incentivo governamental/empresarial, contando exclusivamente com a boa vontade dos psicólogos).


DIFERENÇAS ENTRE GERAÇÕES

Há especificidades geracionais no público que se apresenta neste “novo normal” da terapia online.

Jovens têm familiaridade com a tecnologia envolvida

Pessoas mais jovens têm familiaridade muito maior com a tecnologia envolvida na modalidade, o que facilita não apenas o manejo técnico e o uso das ferramentas, mas lhes permite superar a principal barreira enfrentada pelos mais velhos: aceitar que um contato não-presencial, mediado por tecnologia, possa ser efetivo.

Pacientes com mais de 30 ou 35 anos revelam seus receios sem rodeios. Já ouvi algumas vezes “Essa plataforma é mesmo segura?” (em relação ao site que utilizo).

Pacientes mais velhos demonstram maior desconfiança

A maioria dos mais jovens fica surpreendentemente à vontade com a tecnologia. Uma mãe já me perguntou se podia fazer a sessão com o filho no colo, e um rapaz quis saber se podia terminar um código de programação (para seu trabalho em TI), enquanto falava comigo.


O OLHAR (E O QUE O OLHO NÃO VÊ)

A tela muda o olhar e a percepção

Hoje, me ocorre mais vezes a percepção de que vejo e sou visto. A chamada de vídeo coloca uma miniatura de minha própria imagem no canto da tela.

O atendimento presencial não tem nada equivalente. Ao contrário, é como se minha imagem não estivesse ali, ou não importasse. Suponho vestir uma “máscara de invisibilidade”, que o online desnuda.

E aquilo que, do outro, se oferece a meus olhos (e vice-versa) também tem outra configuração na terapia online.

Eu e meus pacientes nos vemos apenas o rosto e os ombros (creio que alguns se perguntam se ainda estou meio vestido de pijama).

Certas minúcias expressivas de nossos pacientes, a que nós, psicoterapeutas, estávamos acostumados, como observá-los chegar à sala, esperá-los escolher uma poltrona ou sofá, notar o gestual que acompanha uma fala, um movimento sutil da mão ou das pernas, isso não temos mais.

A tela muda a textura da intimidade.

No atendimento presencial, os pacientes fazem seu olhar passear pela sala – olham para si mesmos, para o lado, para baixo, percebem detalhes da mobília. Muitos consultórios psicológicos têm seu design meticulosamente pensado. São sofás, poltronas, divãs, estantes com livros, pinturas, esculturas. Nada disso hoje tem a mesma importância.

Online, estamos ambos presos à visão de uma câmera frontal.

Como consequência disso, tenho descoberto formas de apreender os dramas pessoais de meus pacientes a partir de seus rostos e suas expressões faciais.

Percebo que essa é uma teatralidade nova e bastante intensa. Hoje, vejo os rostos dos pacientes muito mais de perto.

Posso ver cada lágrima; ouço a voz levemente arranhada; vejo a testa começar a franzir. Há algo forte e comovente em ver emergir o sofrimento “a distância”.


A PANDEMIA “CONFIRMA” NEUROSES

Há pacientes para os quais a pandemia confirmou sua visão de mundo sombria, antes vista como “louca” e marginalizada.

Pandemia reforçou importância de higienizar as mãos

Pacientes com TOC, que lavam as mãos compulsivamente, hoje se sentem autorizados pelo noticiário. Fóbicos sociais, para quem o sair de casa cotidiano sempre representou um sacrifício, estão mais relaxados e tranquilos (para alguns, a perspectiva de reabertura chega a incomodar).

Atendo um paciente que tem um problema com álcool. Embora não beba todo dia, o faz em grande quantidade duas ou três vezes na semana.

Desde o início do distanciamento social, sua ingestão alcoólica foi a zero. Isso se deu de modo tão natural que ele passou a enxergar a pandemia como uma benção pessoal.


PRIVAÇÃO DA LIBERDADE

A sensação de estar preso, seja na desolação da solidão ou na inquietação do convívio, é comum e pesada.

Ouço relatos dolorosos de solidão. Uma paciente que mora sozinha passou um aniversário triste. Comprou um bolo e o comeu inteiro.

Ouço que um casal, antes tão amoroso, já não se suporta. Aquelas duas pessoas não deveriam mais estar na mesma casa.

Uma paciente me conta que desconfia de um caso extraconjugal do marido, mas quase não a escuto, tão baixo é o volume de sua voz. Acontece que ele está no quarto ao lado.

Muitos admitem que queriam ter de volta a liberdade de sair quando e para onde quisessem, mesmo que fosse para não ir a lugar algum. O que mais perturba é a opressão da proibição.


O SOFRIMENTO PÓS-PANDEMIA

Demanda por Terapia Online deve permanecer em alta

A demanda por terapia deve continuar crescendo, mesmo depois de se arrefecer a pandemia.

Aquilo que está acontecendo hoje pode levar tempo para se tornar uma queixa psicológica. Meses, talvez anos.

Um exemplo peculiar são pessoas que desenvolverão o chamado “Transtorno do estresse pós-traumático”.

A psique dessas pessoas se encontra atualmente em um estado altamente acelerado, seus organismos estão produzindo cortisol e adrenalina em grandes quantidades. Estão em “modo de batalha”, e só depois que saírem dessa situação estarão sujeitas às implicações psíquicas deste esforço.

Um estudo de 2014 da East Asian Arch Psychiatry mostrou que 42% dos sobreviventes da H1N1 desenvolveram algum transtorno mental, a maioria Transtorno do estresse pós-traumático e Depressão.


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Psicólogo Msc. Rodrigo Giannangelo
CRP 06/56201-2

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