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PERDOAR A SI MESMO: LIDANDO COM A CULPA

Na prática psicológica clínica, o sentimento de culpa aparece com espantosa frequência.

Mas, o que é culpa?

É a sensação que vem da percepção de ter causado algum mal. Ela pode estar ligada a situações concretas ou percebidas.

SITUAÇÕES CONCRETAS

São circunstâncias em que uma ação do sujeito entra em conflito com alguma norma social. Essa norma pode ser uma lei ou um código moral. Por exemplo, são comportamentos passíveis de culpa cometer um crime ou um ato egoísta.

Como seres sociais, tendemos a ver esses comportamentos transgressores como ruins e indesejáveis.

Portanto, quando nos vemos como autores de ações desse tipo, a sensação de culpa vem como lembrete de que erramos e merecemos punição.

Neste contexto, a lembrança do que fizemos é angustiante, e sentimos como se tivéssemos falhado como seres humanos, por ter cometido tal ato contrário ao equilíbrio social.

Rapaz apontando para frente

SITUAÇÕES PERCEBIDAS

Este é o tipo com que mais convivemos no consultório de psicologia.

Aqui, a culpa não está baseada no dano provocado por um ato concreto, mas numa percepção subjetiva de dano.

Por exemplo, pode ocorrer do sujeito sentir-se culpado apenas por fantasiar ações ruins, mesmo sem nunca as praticar.

Entre a imaginação e o desejo, a culpa condena mesmo sem provas.

Quanto mais identificada a pessoa está com seus pensamentos, maior a angústia e a culpa. E essa importância exagerada atribuída aos próprios pensamentos pode ter relação com uma postura de vida egocêntrica. Ou seja, a crença de que, apenas por pensar, a pessoa é capaz de alterar o mundo a sua volta.

Em outras palavras, a culpa vem porque a pessoa não consegue perceber que seus pensamentos são: primeiro, involuntários; segundo, ideias que não se transformam em ação e, portanto, inofensivas. 

CULPA INFANTIL

Uma forma de “culpa percebida” especialmente importante é aquela que se desenvolve durante a infância. Sua singularidade está no fato de que a criança é mais facilmente influenciada.

 Nesta fase, muitos pais e cuidadores, quase sempre sem perceber, utilizam a culpa como ferramenta para controlar o comportamento de seus filhos.

Isso acontece quando a criança realiza um comportamento indesejado pelos adultos e é “acusada” de ter causado um malefício. Por exemplo, a criança faz bagunça e ouve: “Papai do céu fica triste quando você faz isso”.

A acusação acima é clara e grave: a criança é culpada pela tristeza divina.

A repetição de frases com o mesmo sentido acusatório, aliada à facilidade com que a criança absorve e internaliza representações de si mesma, ajuda a construir uma pessoa insegura de seus atos, sempre disposta a se achar culpada pelo que acontece de ruim ao seu redor.

CASOS ESPECIAIS: CULPA DO SOBREVIVENTE E EFEITO DOBBY

– A “culpa do sobrevivente” é um exemplo que pode ser bastante intenso e acompanhar o sujeito por toda a vida.

Este sentimento ocorre a alguns sobreviventes de tragédias (quedas de aviões, naufrágios etc.) onde há muitos mortos. Para essas pessoas, o fato de serem os únicos (ou alguns dos poucos) a sobreviver, é motivo de sentir culpa.

– O “efeito dobby”, por outro lado, é a tendência à autopunição como forma de se livrar do sentimento de culpa.

A automutilação (fazer cortes no corpo ou bater a cabeça contra a parede, por exemplo) é uma das ações possíveis.

COMO LIDAR COM A CULPA?

Reconhecer e aceitar a culpa não é fácil.

Se ela é motivada por uma situação concreta, com consequências legítimas, é possível pedir desculpas e/ou reparar o dano causado.

Porém, é mais complicado quando esse pedido de desculpa precisa ser feito a si mesmo.

Quando a culpa é gerada por acusações indevidas e abusivas, a pessoa culpada não sabe como se livrar dela. Sente-se constantemente angustiada, mas não consegue identificar a origem do problema ou o que fazer.

Para essas situações, indica-se o apoio da psicoterapia.



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Psicólogo Rodrigo Giannangelo
CRP-SP 56201

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