
Para entender relações abusivas é preciso compreender o significado da palavra abuso.
Abuso indica situações de excesso / mau uso de um direito ou conquista.
Por exemplo, o que é abuso de confiança? É alguém usar a credibilidade que conquistou como oportunidade para fazer algo que provoca prejuízo.
O que é abuso de poder? É alguém que tem poder utilizá-lo além do que tem direito.
E assim por diante.
Do ponto de vista psicológico, abusos podem provocar danos graves e duradouros às pessoas atingidas. Ou seja, podem se configurar como situações traumáticas.
Porém, cicatrizes emocionais não são visíveis como as físicas. Isso dificulta que sejam percebidas, até mesmo por pessoas muito próximas.
No Brasil, as estatísticas sobre diversas formas de abuso são alarmantes.
Para ilustrar com números, em 2018 foram registrados no Brasil mais de 66 mil casos de abuso sexual. Em 2014, mais de 220 mil pessoas foram atendidas pelo SUS como vítimas de vários tipos de violência. Por outro lado, há dados que indicam que o abuso mais frequente é o psicológico (ver, abaixo: Defensoria Pública do Ceará, Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, 2019).
A primeira coisa a fazer numa situação abusiva é sair/fugir ou dizer a alguém o que está acontecendo. Isso não é fácil, pois o agressor tenta usar seu poder de controle para fazer a vítima se sentir amedrontada e incapaz. Porém, é preciso buscar meios de superar essa barreira psicológica.
Existem instituições e profissionais que podem ajudar vítimas de relações abusivas, não importa o que esteja acontecendo.
DIFERENTES TIPOS DE RELAÇÕES ABUSIVAS
Abuso físico
O abuso físico é a forma de violência doméstica mais conhecida. Inclui qualquer dano físico a alguém.
São exemplos:
- Chutar, socar
- Forçar a usar substâncias
- Controlar a medicação ou evitar atendimento médico
- Estrangular
- Queimar
- Ameaçar ou usar armas (facas, armas de fogo etc.)

Abuso emocional
O abuso emocional é uma forma de violência baseada no uso de manipulação, chantagem e outros “jogos mentais” para controlar alguém.
Algumas das estratégias utilizadas incluem:
- Humilhar
- Causar medo
- Perseguir
- Proibir de ir a certos lugares
- Proibir de falar com certas pessoas
- Demonstrar ciúme excessivo
- Culpar o outro indevidamente
- Xingar
- Fazer a pessoa se sentir mal consigo mesma
Abuso Sexual
Diferentemente do que a maioria costuma pensar, o abuso sexual não diz respeito necessariamente sobre sexo. Sua manifestação tem conteúdo sexual, mas seu significado mais profundo se relaciona com poder e controle.
Algumas dessas manifestações são:
- Forçar a realização de qualquer atividade sexual sem consentimento
- Forçar a realização de sexo sem preservativo e/ou método contra conceptivo
- Machucar fisicamente enquanto tem relações sexuais
- Realizar atividade sexual com alguém cuja condição não permite um consentimento consciente, como sob intoxicação de drogas ou álcool
- Forçar uma pessoa a fazer sexo com outros contra a própria vontade
- Realizar qualquer atividade de cunho sexual com pessoa abaixo da idade mínima socialmente prevista
Abuso infantil
Qualquer tipo de abuso pode ser dirigido a crianças. Contudo, separamos um espaço específico para o abuso infantil por dois motivos. Primeiro, pela espantosa frequência com que ele ocorre; segundo, pela condição diferenciada de fragilidade da criança.
No Brasil, a grande maioria dos abusos contra crianças têm como autores pessoas próximas à vítima, como pai, mãe (padrasto, madrasta), tios, avós, vizinhos, amigos da família etc.
Alguns dos exemplos mais comuns incluem:
- Bater
- Sufocar, estrangular
- Queimar
- Puxar o cabelo
- Jogar, deixar cair
- Morder
- Beliscar
- Obrigar a engolir coisas perigosas

Negligência infantil
Ainda dentro da categoria do abuso infantil, relações abusivas especialmente nefastas se dão sob a forma de negligência, o que inclui:
- Descuidar da educação; manter fora da escola
- Não oferecer apoio emocional, carinho
- Descuidar da nutrição
- Descuidar dos cuidados médicos (vacinação, consultas médicas periódicas)
- Ignorar coisas que a criança faz e podem causar machucar
- Deixar a criança sozinha por longos períodos
Abuso de idosos
Pelos mesmos motivos do abuso infantil, o abuso de idosos merece atenção especial.
Também costuma ser realizado por pessoas próximas à vítima, ou por cuidadores contratados.
Em geral, o abuso a essa população pode incluir ações como:
- Causar dor
- Conter fisicamente de modo exagerado e/ou desnecessário
- Humilhar, xingar
- Reter ou tomar para si recursos financeiros
- Abusar sexualmente
- Descuidar de medicamentos e outros itens importantes para a saúde
Abuso Financeiro
O abuso financeiro pode ocorrer quando uma pessoa tem controle sobre as finanças de outra ou quando possui autoridade psicológica suficiente para levá-la a tomar decisões financeiras contra a própria vontade.
Exemplos disso incluem:
- Utilizar recursos financeiros sem que o dono tenha conhecimento e/ou consentido
- Controlar as finanças de modo que a pessoa não consiga usar seu próprio dinheiro
- Assediar para que alguém trabalhe mais / ganhe mais
Bullying
Bullying é um comportamento agressivo que envolve dominação. Isso pode acontecer de uma única pessoa para outra, de um grupo para uma pessoa ou entre grupos.
O bullying é mais comum na infância e na adolescência, e leva sua vítima a uma sensação de medo constante, além de impactar em todo o desenvolvimento psicológico posterior.
Algumas formas de bullying são:
- Xingar
- Empurrar ou bater
- Incitar outros a zombar da pessoa
- Ridicularizar e humilhar
- Intimidar

RELAÇÕES ABUSIVAS: QUEM SÃO OS ABUSADORES?
Como dissemos acima, muitas vezes o abusador é uma pessoa próxima, como marido, pai, vizinho, professor… Além disso, os abusadores costumam ser pessoas vistas como “normais” em quase todas as situações de sua vida social. Isso faz com que seja difícil prever quando uma relação será abusiva.
No entanto, alguns “fatores de risco” podem ser observados.
Com frequência, abusadores são pessoas que sofreram abuso no passado. Eles também podem ter sido cruéis com animais ou outras crianças na infância. Abusadores ainda podem acreditar que são melhores que os outros e ter ciúme doentio. Podem, ainda, ter um temperamento explosivo e controlador. Muitas vezes, são ruins em negociações e resolução de conflitos.
RELAÇÕES ABUSIVAS: EFEITOS DO ABUSO
Os efeitos variam, dependendo do tipo, da extensão e da gravidade do abuso. Características pessoais da pessoa abusada também podem influenciar.
Algumas pessoas conseguem atravessar a situação abusiva com poucas sequelas, mas a maioria carrega marcas psicológicas e/ou físicas.
Vítimas de abuso costumam dizer que as cicatrizes psicológicas são piores do que as físicas. Isso porque são mais difíceis de lidar, doem mesmo sem serem visíveis e demoram muito mais a ir embora.
As marcas físicas do abuso são geralmente visíveis imediatamente, como:
- Contusões, cortes, queimaduras
- Ossos quebrados
- Olhos roxos
- Perda de dentes
As cicatrizes psicológicas do abuso podem levar mais tempo para se manifestar, não são tão facilmente perceptíveis e podem durar para sempre.
Algumas das mais comuns incluem:
- Transtorno de ansiedade
- Depressão
- Comportamento antissocial
- Comportamento de risco
- Abuso de drogas/álcool
- Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade
- Transtornos de humor ou personalidade
- Medo de se relacionar
- Falta de autoestima
- Transtorno de estresse pós-traumático (podendo acarretar sintomas como flashbacks e pesadelos, culpa, insônia, irritabilidade, isolamento, desconfiança, ansiedade)
TRATAMENTO PARA VÍTIMAS DE ABUSO
É importante dizer: relacionamentos saudáveis não incluem abuso, de nenhum tipo!
Ninguém deve acreditar que é “normal” ou que “está tudo bem”, nem que “a culpa é sua”. Desde quando começa um relacionamento, a pessoa deve estabelecer limites e ser bastante clara sobre o que espera daquela relação.
A terapia é fortemente indicada às vítimas de qualquer tipo de abuso. Nesse sentido, quanto antes iniciar o tratamento, melhores as chances de progresso.
A terapia também é um fundamental apoio para quem deseja deixar a posição de abusador.
A importância da terapia está no fato de que não existe prazo para que os efeitos do abuso simplesmente desapareçam espontaneamente. Para muitas pessoas, esses efeitos são sentidos pelo resto de suas vidas.
Isso vale não apenas para os indivíduos, mas também para suas famílias, frequentemente atingidas pela situação.

A PSICOTERAPIA
Na terapia, quebra-se a conexão entre as memórias ruins (traumáticas) do passado abusivo e os sentimentos e comportamentos do presente e do futuro. Isso acontece por meio do que chamamos de “ressignificação”, ou seja, da atribuição de novos significados para os fatos ocorridos, e a subsequente (re)construção de um projeto de futuro que faça sentido.
Um fato importante sobre vítimas de abuso é que muitas não gostam de sair de casa. Isso faz muito sentido depois que passaram por uma situação abusiva e finalmente encontraram um lugar onde se sentem seguras.
Para essas e para todas as demais vítimas, bem como para suas famílias, a terapia online é uma grande oportunidade.
Poder falar com um psicólogo licenciado no conforto e na segurança da própria casa dá às pessoas maiores chances de um tratamento continuado e bem sucedido.
A terapia online tem os mesmos fundamentos teóricos e princípios éticos da terapia presencial, incluindo as questões sobre o sigilo das sessões.
De fato, temos percebido na prática cotidiana que muitas vítimas de abuso, que cancelavam suas consultas repetidamente quando faziam a terapia presencialmente, tem aderido muito melhor ao tratamento na modalidade online.
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