Todos nós precisamos de mecanismos de defesa; o problema começa quando a situação ameaçadora deixa de existir, mas a defesa não se atualiza…

Freud conceituou o Ego como o árbitro que busca equilibrar, de forma socialmente aceita, as demandas de nossa identidade primitiva (Id) e de nossa moralidade (Superego).
Quando o Ego não dá conta dessa tarefa, ele constitui ‘mecanismos de defesa’ que, atuando inconscientemente, lhe ajudam a lidar com algo que, de outra forma, poderia sobrecarregá-lo emocionalmente.
Assim, quando você ainda não é cognitiva ou emocionalmente maduro, essas defesas se justificam. Elas lhe protegem de situações potencialmente insuportáveis do ponto de vista psicológico.
O problema com essas defesas é que elas não desaparecem quando a condição estressante deixa de existir. Ao contrário, elas continuam ativas como originalmente, confundindo o presente com o passado, e influenciando pensamentos, emoções e comportamentos.

Ou seja, qualquer situação que lembre uma época anterior, quando os mecanismos de defesa aliviavam a ansiedade, servirá para reativá-los.
Em outras palavras, mecanismos de defesa não “amadurecem” conforme crescemos. Ao contrário, permanecem iguais, a menos que nos conscientizemos deles e trabalhemos para adequá-los às circunstâncias atuais.
Algumas defesas (a sublimação, por exemplo) podem permanecer adaptativas ao longo da vida. Mas, a maioria deles, não.
Por isso, é crucial aprender a reconhecer essas defesas e suas “boas intenções” (mas, agora, equivocadas), e depois colocá-las em seu devido lugar.

MECANISMOS DE DEFESA EXISTEM EM TODOS NÓS
Quando crianças, somos tão dependentes de nossos cuidadores (e do ambiente, em geral), que qualquer coisa que leve a nos sentirmos indesejados, desconsiderados ou rejeitados pode nos colocar num estado de grande sofrimento psicológico.
Diante da ansiedade, vergonha, confusão ou da dor psíquica abundante, precisamos de algo além de nossa mente consciente para intervir, a fim de nos proteger de uma realidade vivida como emocionalmente intolerável.
As defesas são ferramentas psicológicas construídas precocemente para permitir que a gente se desenvolva APESAR de situações ameaçadoras. Paradoxalmente, contudo, conforme essas defesas se prolongam pela vida afora, acabam impedindo a continuidade desse desenvolvimento.

Por exemplo, você pode ter aprendido, convivendo com seus pais – que não eram necessariamente pais ruins, mas que nem sempre estavam sintonizados com todas as suas necessidades – a não acreditar que as pessoas se importam com você. E essa atitude cética pode ter lhe levado a manter distância dos outros. Assim, você acreditou (inconscientemente) que minimizaria o risco de relações frustrantes; ao mesmo tempo, porém, se privou de estabelecer relações positivas, que poderiam, inclusive, compensá-lo pelo afeto que lhe faltou originalmente.
Por outro lado, alguma de suas defesas poderia ter levado você a se apegar demais aos outros, ou a ser excessivamente exigente com eles. Agindo desse modo, você acabaria afastando as pessoas de si, e acabaria “confirmando” as dúvidas e carências sofridas originalmente.

O “CRÍTICO INTERNO”
Outro aspecto que deve ser mencionado aqui é o chamado “crítico interno”.
Psicanalistas normalmente não consideram essa voz interior como um mecanismo de defesa, embora seu funcionamento se assemelhe a um. Em vez disso, o “crítico interno” é aquela instância que ativa suas defesas, assim como, frequentemente, constitui as consequências negativas delas.
Seu “crítico interno” tem três objetivos principais: (1) fazer você evitar algo em que acredita que vai falhar; (2) evitar que você se torne superconfiante, e dê um “passo maior que a perna”; e (3) agir como seu gerenciador de tarefas, para que você trabalhe mais e com mais esforço (para diminuir a chance de falhar).
Além disso, ele pode levá-lo ao perfeccionismo ou à procrastinação, tanto para reduzir como para retardar suas chances de falha.
2 comentários em “Mecanismos de defesa desatualizados causam boa parte do nosso sofrimento”