
Um em cada oito americanos com mais de 12 anos toma antidepressivos;
Um quarto das pessoas que usam esses medicamentos o faz há mais de 10 anos.
– Centro de Controle e Prevenção de Doenças (EUA)
Pelo número assustador de pessoas que tomam antidepressivos, seria de se esperar que sua eficácia estivesse acima de qualquer dúvida, não é?
Pois bem…
A realidade é que especialistas ainda estão debatendo se antidepressivos são de fato melhores que placebos (efeitos psicológicos da crença do paciente de que ele está sendo tratado).

EVIDÊNCIAS EM AMBOS OS LADOS
Pesquisa publicada no início deste ano na Lancet concluiu que 21 antidepressivos analisados superaram significativamente um placebo.
Se uma em cada 10 pessoas melhoram, dá para dizer que funciona?
Muitos consideraram o resultado uma vitória para os antidepressivos. Pesquisas adicionais, contudo, questionam essa animação.
De fato, os dados da Lancet mostraram que, para cada 10 pacientes que começam a tomar antidepressivos, cinco relatam sentir-se melhor. Mas quatro deles se sentiriam melhor mesmo se tivessem tomado um placebo.
Então, se uma em cada 10 pessoas melhoram, dá para dizer que funciona?

Complicando ainda mais as evidências está o fato de que os resultados de muitos estudos antidepressivos nunca vêm a público. As empresas farmacêuticas são obrigadas a enviar resultados positivos de testes para aprovar medicamentos, mas não precisam publicar todas as pesquisas. Ou seja, elas podem obter resultados negativos quanto à eficácia de um fármaco e simplesmente não revelar.
Em 1998, foi publicada uma polêmica meta-análise (meta-análise = pesquisa que analisa, de forma sintética, os resultados combinados de diversas pesquisas sobre o mesmo assunto) que constatou que a maior parte do benefício de um medicamento antidepressivo era atribuível ao efeito placebo.
Se você tem um resfriado e eu lhe prescrevo um remédio, há 100% de chance de que você se sinta melhor dentro de alguns dias — mas isso não prova que o remédio funciona.
Muitas pessoas consideram o placebo como um tratamento falso — equivalente a nenhum tratamento — mas isso não é preciso. Décadas de pesquisas mostraram que os placebos podem ter um efeito real e significativo no prognóstico dos pacientes — mesmo quando usados para tratar condições que não são de natureza psicológica.
Efeitos placebo muito relevantes têm sido observados em pacientes com hipertensão, Parkinson e mesmo esclerose múltipla, doenças cuja natureza biológica ninguém questiona. Recentes pesquisas com equipamentos de diagnóstico por imagem sugerem que placebos podem causar alterações mensuráveis, semelhantes às provocadas por opioides, no cérebro e no fluido cefalorraquidiano.

Há poucos ensaios clínicos comparando antidepressivos a ausência de qualquer tratamento. A depressão pode ser letal, por isso seria antiético negar tratamento a pessoas deprimidas, para fins de pesquisa. Assim, mesmo nos grupos placebo, os pacientes geralmente recebem alguma forma de acompanhamento clínico, o que é quase certo que forneça algum benefício.
Também deve ser considerado o fato de que a depressão é uma condição cíclica, com altos e baixos. Por conta dessas oscilações naturais, seria necessário saber o que aconteceria com os pacientes de um grupo de pesquisa sem tratamento, para analisar adequadamente tanto o efeito placebo quanto o efeito do remédio. Se você tem um resfriado e eu lhe prescrevo um remédio, há 100% de chance de que você se sinta melhor dentro de alguns dias — mas isso não prova que o remédio funciona.
POR QUE PESQUISAS COM ANTIDEPRESSIVOS SÃO TÃO COMPLICADAS?
Há problemas adicionais com os dados de pesquisa sobre os benefícios dos antidepressivos.
Por razões de segurança, em ensaios que colocam antidepressivos contra placebos, todos os participantes são informados dos possíveis efeitos colaterais dos antidepressivos.
Ocorre que alguns desses efeitos colaterais são bastante comuns (como “boca seca”), e seu surgimento pode acabar “revelando” ao participante que ele recebeu o medicamento “real”. Isso aumentaria a eficácia aparente do antidepressivo, enquanto diminuiria a do placebo.

Por um lado, os antidepressivos claramente funcionam para muitas pessoas – mesmo que alguns ou muitos de seus benefícios sejam atribuíveis ao efeito placebo ou à natureza cíclica da condição. Por outro lado, os antidepressivos podem ter sérios efeitos colaterais, incluindo disfunção sexual, perturbações do sono e ganho de peso.
Alguns médicos confessam informalmente prescrever placebos para seus pacientes. Com base nas evidências existentes, isso fornece uma grande parte dos benefícios de um antidepressivo, sem o risco de efeitos colaterais. Mas essa prática tem óbvios e graves entraves éticos.
Há autores que julgam ser prudente, na maioria dos casos, começar o tratamento com psicoterapia não medicamentosa e adicionar antidepressivos apenas se não houver resposta positiva. Outra prática recomendada por alguns estudiosos consiste em dar aos pacientes doses extremamente baixas de antidepressivos – cerca de 25% da dose normal – buscando oferecer os benefícios do medicamento (e qualquer efeito placebo associado) e, ao mesmo tempo, reduzir as chances de efeitos colaterais desagradáveis.

Alguns, ainda, argumentam que a terapia combinada com medicamentos tem desvantagens. Pacientes medicados podem ter inicialmente uma súbita (e falsa) sensação de melhora, que os leva a julgar que a terapia se tornou desnecessária. Porém, depois de algum tempo, quando o efeito de melhora se estabiliza em um patamar ainda longe do bem-estar desejado, o paciente tende a recair e/ou entrar em crise.
Como diz a pesquisadora Michelle Newman (Universidade Estadual da Pennsylvania e diretora do Laboratório para Pesquisa sobre Ansiedade e Depressão) “a eficácia dos antidepressivos é superestimada e os antidepressivos são exageradamente prescritos”.
O futuro, sem dúvida, trará novos medicamentos, juntamente com novas análises de sua eficácia. Enquanto isso, o debate sobre se os antidepressivos superam os placebos continua.
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