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Ouça sua raiva, ela tem algo importante a dizer (Parte 1)

COM RAIVA, EU??

RAIVA

Há alguns anos, atendi uma jovem que era conhecida em seu grupo de amigos como “a calma em pessoa”.

Ganhara esse título como elogio à absoluta tranquilidade e invejável estabilidade. Lidava bem com o estresse. Tinha sempre uma voz suave e, em caso de conflito, suas palavras eram cuidadosamente escolhidas para não magoar.

Sentia que tais características eram conquistas pessoais, até mesmo sinais de superioridade — indícios de que era uma pessoa forte, estável, madura e racional.

Bem…

Ela carregou essa ideia de si por anos, até que um pequeno incidente aconteceu – e a derrubou.

RAIVA

Ela estava na praia. Sua filha mais velha, então com 10 anos, saía da água.

A menina vinha pulando e brincando quando um cachorro apareceu correndo e pulou em cima dela, mordendo-a levemente no tornozelo.

Não foi uma mordida grave; nem chegou a ferir a pele. Claramente, a intenção do animal não era machucar, mas brincar. A menina estava fisicamente bem, apenas assustada.

Minha paciente estava sentada a alguns metros de distância, na areia, de onde viu tudo.

Correu até a filha, pegou o cachorro pela coleira, erguendo-o do chão, e olhou em volta, procurando o dono.

Ninguém…

Gritou: “De quem é esse cachorro?”

Ninguém…

Havia bastante gente na praia, e era certo que todos tinham ouvido (pois agora olhavam para ela), mas ninguém reivindicou o cachorro.

Ela desistiu e expulsou o cachorro, concentrando-se em confortar a filha.

Dizia à menina: “Está tudo bem. Não foi nada.” 

Ela nunca tivera uma explosão de raiva como aquela.

Era um sentimento que ela não reconhecia em si, até que explodiu em seu rosto vermelho e em sua voz colérica.

Os dias passaram, mas a raiva não a deixou. Ao contrário, parecia mais clara e óbvia.

Mas não estava mais relacionada à praia e ao cachorro.

Eram outras memórias que cruzavam seu caminho onde quer que estivesse: situações do passado em que ela se via desamparada, ignorada e diminuída.

Aos poucos, essas memórias trouxeram outras: momentos em que, em vez de fazer sua voz ser ouvida, exigindo respeito, impondo limites e expressando suas emoções e necessidades, ela se fechou. 

Lembrava-se também como, em cada uma daquelas situações, dissera a si mesma aquelas palavras suaves: “Está tudo bem. Não foi nada.” 

Ser capaz de sufocar a raiva não é sinal de saúde emocional.

Não é sinal de superioridade, nem de maturidade. É somente um sinal de que você aprendeu, de alguma forma, a se conter.

Por vezes, essa contenção é positiva.

É interessante controlar suas palavras quando você está com raiva, evitando, assim, insultar alguém. Quando vemos pessoas adultas se xingando e ofendendo, por exemplo, no trânsito, percebemos a falta que pode fazer a contenção.

Outras vezes, no entanto, a contenção não é positiva.

A RAIVA AJUDA A COLOCAR LIMITES

Se você é incapaz de expressar sua indignação em situações em que é injustiçado, ofendido, discriminado ou exposto a comportamentos que lhe machucam, você contribui para que essas coisas se repitam.

Não, não é sua culpa que as pessoas se comportem mal com você. Mas se alguém, mesmo sem querer, pisa no seu pé – ou na sua alma – cabe a você dizer: “Ei, não faça mais isso. Não gostei”.

A raiva está aí para ajudá-lo a se expressar. Se você a ignorar e sufocar, o resultado mais provável é que as pessoas continuem com o mesmo tipo de comportamento. Talvez nem saibam que aquilo lhe machuca. Talvez saibam, mas não se importem. De qualquer forma, você continuará sendo maltratado.

Você pode sentir raiva de alguém distante de você. Nesse caso, consegue evitar a pessoa e, consequentemente, também a raiva. O comportamento que lhe machuca não acontece e você nunca vai precisar tocar no assunto. 

No entanto, você pode sentir raiva de alguém próximo a você – alguém que você gosta. Então, aquele comportamento incômodo se repete e machuca. Sem saber se expressar, você apenas acumula raiva.

Acumular não resolve, nem alivia. A raiva fica sob pressão. Logo, torna-se como um grande balão cheio de ar, prestes a explodir.

Sobre as consequências desse acúmulo da raiva, vou falar na parte 2 desse texto.

Até lá!


RECADO PARA VOCÊ

A pandemia tem afetado o bem-estar de quase todas as pessoas.

Muitas estão ansiosas, estressadas ou assustadas, constantemente pensando no que pode dar errado.

Estudiosos preveem que isso deve trazer consequências negativas até muito tempo depois que a pandemia terminar.

Portanto, se você não estiver se sentindo bem, procure ajuda.

Se preferir, clique no botão do WhatsApp abaixo e fale comigo.


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