
O Instagram é uma rede social que pertence ao Facebook e tem mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo (Statista, 2018). Só no Brasil, são mais de 100 milhões de pessoas conectadas. 71% dos usuários têm menos de 35 anos (Statista, 2018) e utilizam a rede social em média 53 minutos diariamente (Recode, 2018).
Um artigo recente no The Wall Street Journal, intitulado “Facebook Knows Instagram Is Toxic for Teen Girls, Company Documents Show” (O Facebook sabe que o Instagram é tóxico para meninas adolescentes, mostra documento da companhia, em tradução livre), relata que “nos últimos três anos, o Facebook vem realizando estudos sobre como seu aplicativo de compartilhamento de fotos afeta seus milhões de usuários jovens.” Os próprios pesquisadores do Facebook “descobriram que o Instagram é prejudicial para uma porcentagem considerável deles, mais notavelmente os adolescentes”.
Artigo no The Wall Street Journal revelou documentos do Facebook mostrando que o Instagram é prejudicial aos adolescentes
Os repórteres do The Wall Street Journal encontraram essas declarações em uma apresentação de slides de 2019 enquanto analisavam documentos internos produzidos pela empresa: “Nós pioramos problemas de imagem corporal em uma a cada três meninas adolescentes” e “Adolescentes culpam o Instagram por aumento nas taxas de ansiedade e depressão…”.
E a revelação mais perturbadora talvez seja:
“Entre os adolescentes que relataram pensamentos suicidas, 13% dos usuários britânicos e 6% dos usuários americanos rastrearam o desejo de se matar no Instagram – uma apresentação mostrou.”

A NOTÍCIA NÃO É NOVA
A pesquisa #StatusOfMind (Royal Society for Public Health, Reino Unido, em 2017), pesquisando quase 1.500 adolescentes e jovens adultos, descobriu que Instagram, Snapchat, Facebook e Twitter estão associados a altos níveis de depressão, bullying e FOMO, o “medo de perder algo” (Falei sobre isso aqui no blog em ARTIGO ANTERIOR).
O Instagram, especificamente, foi avaliado como “a pior rede social para a saúde mental e o bem-estar.” Uma adolescente entrevistada pela pesquisa disse: “O Instagram facilmente faz meninas e mulheres sentirem que seus corpos não são bons o suficiente, pois as pessoas adicionam filtros e editam suas fotos para que eles pareçam ‘perfeitos’”.

A cultura do Instagram cria um ambiente que recompensa a perfeição
Então, por um lado, temos o fato de que nossos cérebros reagem a imagens virtuais como se fossem reais. Por outro, temos a tendência a nos compararmos aos outros. Resultado: as pessoas esquecem que muitas das imagens das redes sociais não são “reais”, e criam expectativas e ideais de beleza inatingíveis.
Isso é particularmente prejudicial para adolescentes que já lutam com a autoestima e são mais vulneráveis à aprovação social.
PHOTOSHOP JÁ É PASSADO
Há algum tempo, a edição de fotos era tarefa restrita a especialistas. Os programas eram pouco acessíveis e requeriam habilidades específicas de uso.
Hoje, porém, graças à disseminação e à facilidade de uso de novos aplicativos de edição, um corpo ou rosto digitalmente desejado está a apenas alguns cliques de distância.
Um dos mais populares apps desse tipo é o “Facetune”. De acordo com seu próprio site, o Facetune é o aplicativo de auto edição número 1 no mundo, sendo usado por mais de 100 milhões de pessoas. Com ele, os usuários podem suavizar traços de expressão, branquear os dentes, apagar manchas, adicionar maquiagem e muito mais.
Aplicativos e softwares de auto edição permitem que os usuários criem padrões irrealistas e inatingíveis de beleza
O Facetune, que no início da pandemia teve um aumento de 20% no seu uso, tem entre 1 milhão e 1,5 milhão de fotos retocadas e exportadas todos os dias.

De acordo com o estudo “Selfies – Living in the Era of Filtered Photographs*” (Selfies – Vivendo na Era das Fotografias Filtradas/Editadas, em tradução livre), existe uma correlação direta entre a proliferação de selfies manipuladas digitalmente e o Transtorno dismórfico corporal, uma subdiagnosticada condição mental que torna pessoas obcecadas por defeitos pequenos ou até fantasiados em sua aparência. Pesquisadores da Universidade de Boston, que conduziram o estudo, alertam que o Facetune e aplicativos similares estão nos fazendo perder o contato com a realidade porque esperamos parecer perfeitamente editados e filtrados na “vida real” também, o que pode causar sérios danos psicológicos.
O que agrava ainda mais a situação é o algoritmo do Instagram, uma lógica computacional que direciona os usuários a conteúdos que ele parece gostar ou tem manifestado interesse. Isso significa que, se um adolescente acessar qualquer conteúdo relacionado a beleza, dietas, cirurgias plásticas ou assuntos semelhantes, é provável que comece a ser bombardeado com outras postagens afins sempre que abrir o aplicativo.
O QUE OS PAIS PODEM FAZER?
Não espere que sua filha (ou filho) deixe de usar o Instagram espontaneamente.
Adolescentes usam o Instagram para uma grande variedade de fins – alguns realmente interessantes. Eles podem se comunicar com amigos, compartilhar conquistas, se informar, se divertir ou defender causas com que se importam. Já há, inclusive, uma comunidade crescente de usuários dedicados a chamar a atenção para o perigo das imagens que geram padrões inatingíveis de beleza.

Passe algum tempo explorando o Instagram por si mesmo, tentando identificar o que pode ser atrativo para seus filhos (mas lembre-se de que o conteúdo que você visualiza foi selecionado pelo algoritmo especificamente para você). Perceba as possíveis armadilhas.
Converse com seu adolescente sobre o Instagram. Ouça (sem julgamento) o que ela/ele tem a dizer, e mantenha um canal de diálogo aberto para esse assunto.
* REFERÊNCIAS
– “Status of Mind: Social Media and Young People’s Mental Health and Wellbeing”, Royal Society for Public Health (2017).
– Rajanala S, Maymone MBC, Vashi NA. Selfies-Living in the Era of Filtered Photographs. JAMA Facial Plast Surg. 2018 Dez 1; 20(6):443-444. doi: 10.1001/jamafacial.2018.0486. 30073294.
RECADO PARA VOCÊ
A pandemia tem afetado o bem-estar de muita gente.
Ansiedade, estresse, medo e pessimismo estão entre os incômodos mais comuns.
Estudos preveem que esses sintomas podem trazer consequências negativas até muito tempo depois que a pandemia terminar.
Portanto, se você não estiver se sentindo bem, procure apoio psicológico.
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