Palavras-chave: dor nas costas; dor crônica; psicoterapia
Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 27 de outubro de 2021
Mais de 16% dos brasileiros sofrem de dor nas costas crônica (IBGE). A procura pelo termo ‘dor nas costas’ no Google cresceu 76% nos primeiros meses da pandemia (Google Trends).
O psicólogo e neurocientista Yoni Ashar conduziu uma pesquisa que comparou a eficácia de 3 diferentes “tratamentos” para dor nas costas crônica. O estudo* acaba de ser publicado na JAMA Psychiatry.

COMO FOI A PESQUISA?
– 151 adultos, metade homens e metade mulheres, com níveis leves a moderados de dor nas costas crônica.
– Os sujeitos foram distribuídos em três grupos e foram submetidos a uma das intervenções descritas abaixo:
- Psicoterapia (Técnica Terapia de reprocessamento da dor [TRD]);
- Tratamento placebo (injeção de soro fisiológico);
- Protocolo médico padrão para dor nas costas crônica.

QUAIS FORAM OS RESULTADOS?
A maioria dos sujeitos (2 em cada 3) que receberam a psicoterapia (duas sessões por semana, durante um período de quatro semanas) avaliaram sua dor após o tratamento em 0 ou 1 (em uma escala de 0 a 10). Ou seja, eles basicamente se livraram da dor.
Os sujeitos do grupo placebo tiveram, na média, alguma redução de dor, mas significativamente menor.
Os sujeitos do grupo submetido ao protocolo padrão não experimentaram praticamente nenhuma redução da dor ao final do período de tratamento.

O TRATAMENTO PSICOTERÁPICO E A DOR NAS COSTAS
A Terapia de reprocessamento da dor (TRD) combina técnicas cognitivas, somáticas e de exposição. O terapeuta explica motivos por que a dor nas costas pode persistir e, em seguida, encoraja os sujeitos a começar a realizar movimentos que costumam ser dolorosos.
Ashar et al.* referem-se à TRD como adaptação de um método da Terapia Cognitiva Comportamental. Seu protocolo de tratamento evoluiu a partir da compreensão dos pesquisadores sobre a natureza psicológica da dor crônica.

O QUE ACONTECE NA DOR NAS COSTAS CRÔNICA?
Imagine que um acidente provoque ferimento em uma estrutura tecidual das costas. Um exame de ressonância magnética pode mostrar a natureza, o local e a extensão do dano. Alguns meses depois do ferimento, uma segunda ressonância magnética é realizada e mostra que o dano tecidual foi curado.

No entanto, muito tempo depois da cura física ter ocorrido, algumas pessoas ainda vão continuar a sentir dor ao realizar certos movimentos – os mesmos que eram dolorosos quando a lesão ocorreu.
A continuação da dor nas costas após o dano físico real ter cicatrizado ocorre porque o cérebro recorda quais movimentos inicialmente causavam dor. É como se o cérebro continuasse dizendo ao corpo: “Este movimento é potencialmente uma ameaça às suas costas.” Esta mensagem, então, inicia a mesma sensação de dor física que inicialmente havia protegido o corpo de novas lesões.
Assim, respostas de dor que inicialmente tinham sido protetoras podem perdurar além do tempo em que servem a esse fim. A ponto de permanecer mesmo quando só traz sofrimento.
A TRD “ensina” ao cérebro que essa mensagem de ameaça não é mais necessária. Surpreendentemente, à medida que o cérebro aprende uma nova mensagem — de que a crença da dor é incorreta e a dor é desnecessária — as sensações de dor gradualmente cessam.
Como a maioria dos tratamentos de TCC (Terapia Cognitivo Comportamental), além de abordar crenças problemáticas, a TRD também aborda os comportamentos que vêm sustentando essas crenças. À medida que o paciente experimenta gradualmente os movimentos que costumavam doer, esses movimentos acabam por deixar de produzir dor.
IMPORTÂNCIA DESSE ESTUDO PARA A DOR NAS COSTAS CRÔNICA
O estudo concluiu que o tratamento psicológico centrado na mudança de crenças dos pacientes sobre as causas e propósitos de sua dor “pode fornecer alívio substancial e durável” para anos de sofrimento com dores nas costas.
Pesquisas como esta desafiam o conhecimento tradicional sobre como tratar um fenômeno médico aparentemente 100% físico. Por isso, a publicação em uma revista médica renomada com a JAMA é um com sinal de sua seriedade e relevância.
REFERÊNCIA
* Yoni K. Ashar, PhD et al. (2021). Efeito da terapia de reprocessamento da dor vs Placebo e cuidados habituais para pacientes com dor crônica nas costas: um ensaio clínico randomizado. JAMA Psychiatry. doi: 10.1001/jamapsychiatry.2021.2669. Publicado online em 29 de setembro de 2021.
RECADO PARA VOCÊ
A pandemia tem afetado o bem-estar de muita gente.
Ansiedade, estresse, medo e pessimismo estão entre os incômodos mais comuns.
Estudos preveem que esses sintomas podem trazer consequências negativas até muito tempo depois que a pandemia terminar.
Portanto, se você não estiver se sentindo bem, procure apoio psicológico.
Se preferir, fale comigo. Acesse aqui o Whatsapp 👇
VEJA TAMBÉM