Palavras-chave: violência obstétrica; parto; violência contra a mulher
Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 23 de dezembro de 2021

O parto é sempre um momento singular na vida da mulher. Costumam estar em jogo emoções complexas, aliadas a uma situação de fragilidade física e psicológica.
Uma pesquisa desenvolvida pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc apontou que cerca de uma a cada quatro mulheres sofre com algum tipo de violência durante o parto no Brasil.
A violência obstétrica é um tipo de abuso. São consideradas abusivas as situações de excesso / mau uso de um direito ou liberdade.
No caso da violência obstétrica, podemos falar em “abuso de confiança”, quando o profissional usa a credibilidade que conquistou ao longo da gravidez como oportunidade para causar prejuízo à mulher. Também pode ser considerada exercício de “abuso de poder”, já que muitas vezes a mulher é colocada na posição de não poder decidir o que acontece com seu próprio corpo.
O assunto ganhou grande repercussão recentemente, depois que a influenciadora Shantal Verdelho tornou público áudio em que relata ter sido xingada pelo médico Renato Kalil durante o parto.
Shantal afirma que, durante o parto de sua filha caçula, em setembro desse ano, o médico a teria ofendido diversas vezes, com termos como “viadinha”, “mimada” e “faz força, porra”.
Após a denúncia, várias outras mulheres também acusaram o médico do mesmo delito.
Do ponto de vista psicológico, abusos podem provocar danos graves e duradouros às pessoas atingidas. Ou seja, podem se configurar como situações traumáticas.
Porém, cicatrizes emocionais não são visíveis como as físicas. Isso dificulta que sejam percebidas, até mesmo por pessoas muito próximas.

Formas de Violência Obstétrica
Pode ser considerada violência obstétrica qualquer situação de constrangimento provocado à mulher pelos profissionais de saúde envolvidos antes, durante ou logo após o parto. Entre as ocorrências mais comuns, destaco as abaixo:
– Manobra de Kristeller: procedimento de empurrar a barriga da mulher para forçar a saída do bebê (é contraindicada pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial de Saúde).
– Forçar a usar determinados remédios (indutores de parto, por exemplo)
– Romper a bolsa sem permissão da mulher
– Realizar exames vaginais para verificação de dilatação sem respeitar periodicidade mínima ou sem o cuidado necessário
– Omitir socorro ou permitir dor desnecessária
– Episiotomia (incisão no períneo) desnecessária e/ou sem o consentimento da mulher
– Humilhar (“Você está sendo fraca”)
– Causar medo (“Desse jeito seu bebê vai morrer”)

Violência obstétrica: efeitos do abuso
Algumas pessoas conseguem atravessar a situação abusiva com poucas sequelas, mas a maioria carrega marcas psicológicas e/ou físicas.
Vítimas de abuso costumam dizer que as cicatrizes psicológicas são piores do que as físicas. Isso porque são mais difíceis de lidar, doem mesmo sem serem visíveis e demoram muito mais a ir embora.
As marcas físicas do abuso são visíveis. As cicatrizes psicológicas, porém, além de poderem levar mais tempo para se manifestar, não são tão facilmente perceptíveis.
Apoio e tratamento para vítimas de Violência obstétrica
Ninguém deve acreditar que é “normal” ou que “está tudo bem”, nem que “a culpa é sua”.
A violência obstétrica pode levar a quadros de ansiedade, depressão, perda da autoestima, entre outros.
A terapia é indicada às vítimas de qualquer tipo de abuso, especialmente porque não existe prazo para que os efeitos desapareçam espontaneamente.
Não há lei específica que tipifique a violência obstétrica, mas tais condutas podem configurar crimes, como lesão corporal ou omissão de socorro. É importante a realização de boletim de ocorrência. Na área cível, os causadores podem ser responsabilizados por danos materiais e/ou morais, e condenados à reparação destes, por meio de indenização.
RECADO PARA VOCÊ
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