Palavras-chave: educar crianças; educação; educação infantil
Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 14 de fevereiro de 2022
Há várias gerações, os cuidadores responsáveis tentam ensinar às crianças algo que as prepare para a vida.
Assim, a geração do início do século passado viu a Primeira Guerra Mundial, e ensinou o que achava correto. Depois, a geração de meados do século XX assistiu a uma Segunda Guerra Mundial, e ensinou o que achava correto. Então, uma geração depois, muitos saíram de casa muito jovens para trabalhar, e ensinaram o que achavam correto.

O que significa educar crianças hoje?
Hoje, o que percebo é que o pensamento de outrora, forjado nas dificuldades das épocas, ainda vigora.
Nesse pensamento, a ideia subjacente é bastante simples: se você quer que seus filhos tenham sucesso e encontrem felicidade na vida, ensine-lhes que o mundo é terrível — melhor que eles se acostumem e criem “casca dura” logo cedo; assim, crescerão fortes.

Uma pesquisa sobre educar crianças
Os pesquisadores Clifton e Meidl (2021) perguntaram aos pais que crenças básicas de mundo eles achavam que eram melhores para seus filhos. Os pesquisadores chamaram essas crenças de “primitivas”, pois, em sua maioria, se resumem a dizer se o mundo é bom ou ruim.
Parte substancial dos pais (11 a 53%, dependendo da crença avaliada) demonstraram intenção de educar suas crianças para que saibam que o mundo é, de diferentes maneiras, um lugar realmente ruim: estéril, injusto, perigoso, sem graça.
A maioria dos pais (50 a 94%) admitia ao menos querer evitar que seus filhos tivessem crenças muito positivas sobre o mundo.

Por que os pais acham que devem educar crianças com crenças negativas sobre o mundo?
As três principais razões presentes nas crenças primitivas dos pais sobre educar crianças dizem respeito: ao sucesso (1), à saúde (2) e ao bem-estar (3).
São elas:
1. As pessoas geralmente não têm sucesso no trabalho sem uma visão mais negativa das coisas;
2. Ver o mundo como um lugar seguro deixa você vulnerável à doença, a acidentes e à morte;
3. Ver o mundo como um lugar bom leva muitas vezes à decepção, o que pode provocar depressão e desesperança.
Ou seja, os pais associam crenças mais pessimistas sobre o mundo a bons resultados para seus filhos. Na verdade, eles acham mesmo que pessoas bem-sucedidas são aquelas que “entenderam como a vida é” (que veem o mundo como um lugar ruim).
Algo que pesquisas anteriores já descobriram é que o sucesso, a saúde e o bem-estar provavelmente não mudam o tipo de crença do sujeito. Isto é, pessoas com mais sucesso profissional, boa saúde e melhor bem-estar não são, necessariamente, pessoas convencidas de que a vida é legal e o mundo é bom. Essas características parecem funcionar mais como lentes, que usamos para interpretar a vida, do que como espelhos que refletem o que a vida tem sido.
Como vivem as pessoas mais pessimistas?
Uma grande pesquisa tentou identificar a ligação entre as crenças primitivas e certas condições de vida.
Em todas as condições avaliadas, as pessoas com crenças mais negativas sobre o mundo estavam, em média, em pior situação.
Nesse estudo, pessoas com crenças mais negativas sobre o mundo demonstraram ter:
– Pior saúde;
– Emoções mais negativas;
– Mais casos de depressão e tentativas de suicídio;
– Menos satisfação com a vida e bem-estar;
– Menos satisfação em seus trabalhos e desempenho profissional pior em comparação aos pares.
O que concluímos sobre educar crianças de modo mais ou menos otimista?
Muito mais pesquisa terá que ser feita sobre educar crianças para obter resultados conclusivos.
Mas pais e mães precisam decidir como lidar com seus filhos agora, e não podem esperar.
Pessoalmente, penso que meus ancestrais tinham boas intenções. Porém, entendo que ensinar meu filho que o mundo é ruim é uma péssima ideia. Pode haver alguns benefícios nessa visão pessimista, como facilidade de reconhecer uma ameaça, mas não valem o custo.
Então, gostaria de ensinar às crianças da minha vida duas coisas:
1. O mundo tem várias coisas ruins específicas, com as quais é preciso tomar cuidado, e injustiças, contra as quais devemos lutar.
2. No mais, a vida é um presente. As coisas boas superam as ruins. Ninguém pode escapar ao mundo. Nossa única escolha é a atitude que temos enquanto estamos aqui.
Referências
Clifton, J. D. W., & Meindl, P. (2021). Parents think—incorrectly—that teaching their children that the world is a bad place is likely best for them. The Journal of Positive Psychology.
Clifton, J. D. W., Baker, J. D., Park, C. L., Yaden, D. B., Clifton, A. B. W., Terni, P., Miller, J. L., Zeng, G., Giorgi S., Schwartz, H. A., & Seligman, M. E. P. (2019). Primal world beliefs. Psychological Assessment, 31(1), 82-99.
Clifton, J. D. W. (2020). Testing if primal world beliefs reflect experiences—At least some experiences identified ad hoc. Frontiers in Psychology, 11, 1145.
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