O que o álcool faz com um cérebro estressado

Palavras-chave: álcool e ansiedade; alcoolismo; estresse; ansiedade

Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 10 de março de 2022


A pandemia aumentou consideravelmente o consumo de bebidas alcoólicas. Pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em 2020, já apontava um crescimento de 93,9% em relação aos anos anteriores.

Outro estudo, em 2021, realizado pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), mostrou que 55% da população brasileira tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas, sendo que 17,2% das pessoas declararam aumento do consumo durante a pandemia.

Isso talvez não seja surpresa. A crença de que o álcool pode ajudar uma pessoa a “relaxar” é comum. Portanto, muitas pessoas recorreram a ele diante da ansiedade gerada pelo isolamento social e por todas as incertezas trazidas pela covid-19.

Álcool e ansiedade / estresse têm uma relação antiga

Aliás, a noção de que o álcool “acalma os nervos” é antiga. O poeta Alcaeus, na Antiga Grécia, escreveu: “Não devemos deixar nossos espíritos cederem… O melhor de tudo é misturar muito vinho, e beber.”

Essas crenças expressam alguma verdade. O álcool afeta o funcionamento do mecanismo de estresse do nosso corpo, favorecendo a ação do GABA (ácido gama-aminobutírico). O GABA é um neurotransmissor inibidor no sistema nervoso central. Como consequência da diminuição na condução neuronal, a pessoa pode ter as sensações de relaxamento, concentração e sono intensificadas. Isso explica, em parte, por que uma bebida, ao final de um dia frenético, pode acalmar.

álcool e ansiedade

O que a ciência diz sobre álcool e ansiedade / estresse

Um estudo de 2011, publicado na revista Alcoholism descobriu que, logo depois de ter falado em público, os níveis sanguíneos do hormônio do estresse – o cortisol – tendem a aumentar. Porém, quando os participantes do estudo receberam o equivalente a duas doses de bebida alcoólica imediatamente após a tarefa de falar em público, essa resposta de cortisol foi atenuada.

Um estudo de 2009, publicado no Journal of Abnormal Psychology descobriu que elevar o teor de álcool no sangue para um nível de 0,08% reduziu seu “reflexo de susto” (startle reflex) em resposta a choques elétricos provocadores de ansiedade.

Há também evidências de que o álcool fortalece a ação de certos neuroquímicos de modo similar a drogas farmacêuticas redutoras de ansiedade – os benzodiazepínicos, como Valium ou Xanax.

Álcool e ansiedade / estresse: ligação complexa

Apesar do apoio de diversas pesquisas à tese de que o álcool pode reduzir o estresse, a questão é muito mais complicada do que pode parecer. Aparentemente, o álcool não funciona da mesma maneira para todas as pessoas, nem em todas as situações.

De acordo com uma revisão de 2011 da revista Behavioral Neurobiology of Alcohol Addiction, o consumo excessivo   de bebidas alcoólicas pode, inclusive, fazer com que o nível de cortisol no sangue aumente, em vez de diminuir. Além disso, a frequência cardíaca e a pressão arterial também tendem a aumentar com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas — especialmente quando o corpo “quebra” a molécula do álcool, e seus subprodutos tóxicos inundam a corrente sanguínea.

A quantidade de álcool que define um consumo como excessivo varia de uma pessoa para outra. Mas, existe uma espécie de “regra” geral. Pessoas que bebem mais frequentemente e em maior quantidade, provavelmente têm respostas diferentes na relação álcool-estresse do que pessoas que bebem com pouca frequência e em menor quantidade.

O consumo frequente de bebida alcoólica para reduzir o estresse altera a química cerebral. O estado normal do cérebro (sem álcool) começa a mudar, e, em alguns casos, pode se tornar mais ansioso. Essa ansiedade, por sua vez, pode aumentar ainda mais o consumo de álcool, e iniciar um círculo vicioso, onde o estresse e o álcool se alimentam mutuamente.

álcool e ansiedade

Álcool e ansiedade / estresse: efeitos de longa duração

Quando alguém está acostumado a beber para diminuir o estresse, pode ficar ansioso quando se sente estressado e não tem álcool à disposição. Também pode precisar de quantidades cada vez maiores de bebida para obter o efeito calmante do álcool. Ou seja, os efeitos antiestresse do álcool não se sustentam quando o uso se dá por tempo prolongado.

Mas, e aquele que bebe um único drinque, um copo de cerveja ou uma taça vinho, depois de um dia estressante?

Bem, nessa quantidade, os efeitos farmacológicos do álcool são provavelmente mínimos, para o bem ou para o mal. Algumas das pesquisas citadas acima até sugerem que, em baixos níveis, o álcool pode ajudar a diminuir alguns marcadores de ansiedade ou estresse, mas o benefício é realmente pequeno.

Grande parte do fascínio pelo álcool como substância controladora do estresse se deve às atitudes e aos comportamentos das pessoas enquanto bebem. Ou seja, àquilo que a ciência conhece como efeito placebo.

Em outras palavras, se você acredita que o álcool vai fazer você relaxar, provavelmente vai começar a se sentir relaxado assim que der o primeiro gole em um copo de cerveja bem gelada.

Além disso, o ato de beber muitas vezes é envolvido por rituais que, naturalmente, têm propriedades calmantes. Por exemplo, as pessoas se acomodam em cadeiras confortáveis, ligam uma música, jogam conversa fora. 

Conclusão

A mensagem parece ser que, para algumas pessoas, o álcool, em pequenas doses, pode ajudar a reduzir o estresse. Por outro lado, se você está constantemente tentando afogar seu estresse no álcool, o ato de beber pode ser contraproducente – e eventualmente se tornar prejudicial.


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