Palavras-chave: Homens que não demonstram sentimentos; masculinidade tóxica
Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 17 de março de 2022
Desde cedo na vida, meninos são ensinados a separar-se de seus sentimentos, no caminho para se tornarem “homens”. Aprendem a se afastar de suas dores e tratá-las como pouco importantes, encaminhando-se em direção à lógica – esperando, com isso, alcançar sucesso no trabalho, ganhar dinheiro e organizar sua vida adulta de modo competente.
Ou seja,
… homens que não demonstram sentimentos são construídos socialmente.

Em outras palavras, o menino é pressionado a realizar uma tarefa dupla: tornar-se um homem inteligente, trabalhador, competitivo – sinal do bom funcionamento das funções racionais – também pouco empático e frio – sinal de um alcance emocional limitado.
Alguns homens são tão eficientes nessa depuração que seu jeito “normal” de ser se aproxima de uma depressão leve.
Além disso, esse conjunto de traços leva a uma masculinidade que é tóxica, tanto para o próprio sujeito quanto para as pessoas a sua volta. A masculinidade tóxica é uma construção social que define um conjunto de regras para os pensamentos e comportamentos esperados dos indivíduos do sexo masculino.

Homens que não demonstram sentimentos
Contudo, essa formatação que a sociedade aplica aos homens desrespeita a condição humana. As emoções são um traço inerente a nossa humanidade.
Assim, homens que não demonstram sentimentos instalam uma “briga” dentro de si. Tudo aquilo que pertence à dimensão afetiva clama por reconhecimento e expressão, como uma sala de aula onde todos os alunos levantassem as mãos ao mesmo tempo com dúvidas a resolver.
Por isso, há momentos na vida desses homens que não demonstram sentimentos que podem ser especialmente difíceis. A “briga” interna pode incomodar a ponto de se tornar insuportável. Nesses momentos, um olhar empático é capaz de iluminar os olhos masculinos e fazer emergir a esperança da criança afetiva – feliz e infeliz – cuja voz foi abafada.
Usando um termo comum hoje em dia nas redes sociais, precisamos normalizar as emoções masculinas.
Permissão para sentir
A psicologia estadunidense deu um nome a essa “depressão leve” que emerge em homens que não demonstram sentimentos: é a alexitimia masculina normativa.
Alexitimia é o nome dado a uma condição caracterizada pela incapacidade de sentir e descrever emoções. A Associação Americana de Psicologia define a alexitimia masculina normativa como:
uma forma subclínica de alexitimia encontrada em meninos e homens criados para se adequar às normas masculinas tradicionais que enfatizam a dureza, o trabalho em equipe, estoicismo, a competição, e que desencorajam a expressão de emoções que os tornem vulneráveis.
De fato, meninos nascem tão sensíveis quanto meninas. Porém, no processo de socialização, meninos perdem a permissão para sentir.
Na alexitimia masculina normativa, o homem essencialmente está sobrevivendo, e não vivendo. Não está experimentando todo o alcance de sua sensibilidade – que o conecta ao mundo – e, portanto, sente esse mundo como algo maçante e chato. Está privado da possibilidade de ver as cores do mundo, e vive num ambiente cinza.

Então, como sentir?
Sentir é natural. Nascemos sentindo. A desconexão dos sentimentos é ensinada, especialmente aos meninos. Mas, podemos ter em mente duas sugestões úteis para aqueles que querem superar os obstáculos socialmente impostos ao sentir.
1. Perceba que os sentimentos são aquilo que nos torna humanos. A essência humana é de natureza afetiva. Cada vez mais, a ciência pesquisa e descobre inteligência em animais. Nossa racionalidade pode ser privilegiada, mas não exclusiva. Se você quer aproveitar a vida ao máximo, deve ousar sentir. Imagine que alguém cego passe a ver – seus olhos passarão a captar toda sorte de belezas, cores magníficas, atos de bondade, mas também a guerra, a miséria. Preferirá essa pessoa voltar à cegueira por isso?
2. Por não conhecer, talvez você acredite que sentimentos “negativos” são piores do que na realidade são. Perceba que, em algumas situações da vida, a dor é o único caminho possível para que as coisas façam sentido (na perda de um ente querido, por exemplo). Fugir disso é fugir da própria vida.
Em terapia, acompanho muitos homens que, aos poucos, começam a reconhecer e expressar seus medos, vulnerabilidades e dores. Eles ousam parar de fugir e confrontam seu passado, seus desejos e seu projeto de vida. Assim, se abrem para o resgate de seu eu completo, e suas vidas, consequentemente, começam a florescer.
Referências
Bly, R. (1990). Iron John: A book about men. New York, NY: Hachette.
Brackett, M. (2019). Permission to Feel: Unlocking the power of emotions to help our kids, ourselves, and our society thrive. Celadon Books.
Real, T. (1998). I Don’t Want to Talk About It: Overcoming the secret legacy of male depression. Simon and Schuster.
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