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Síndrome do Impostor: o fantasma de se achar uma farsa

Palavras-chave: síndrome do impostor; autossabotagem

Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 29 de agosto de 2022


O termo “síndrome do impostor” surgiu nas últimas décadas para se referir a uma situação de vida que acomete muitas pessoas. Enquanto trilham com sucesso o caminho que leva à vida que desejam, ou mesmo depois de já terem alcançado seus maiores objetivos, essas pessoas não se sentem merecedoras. Desconsideram o mérito de suas conquistas, como se elas tivessem “caído do céu”. Como consequência, temem que um dia sejam desmascarados em suas “farsas”.

Uma pesquisa pelo termo “síndrome do impostor” em periódicos psicológicos mostra que o tema recebe pouca atenção do ponto de vista da pesquisa. Por outro lado, uma pesquisa no Google revela mais de 1 milhão de resultados. Essa desconexão pode significar que a síndrome do impostor é apenas uma daquelas tendências de “psicologia pop” que nunca vai alcançar a comunidade científica?

De fato, minha experiência clínica mostra sinais dessa ‘síndrome’ com incomum frequência. Porém, pode ser que estejamos diante de um fenômeno muito novo, ou de um fenômeno antigo com novas vestes, adaptadas ao mundo contemporâneo.

síndrome do impostor

O que é síndrome de impostor?

Em um estudo de 2018, professores das universidades de Concórdia (EUA) e Cambridge (Reino Unido) estudaram a síndrome do impostor em recém-formados em cursos avançados de pós-graduação. Para os fins da pesquisa, definiram-na como “uma condição em que indivíduos de grande capacidade atribuem suas realizações à sorte e ao acaso, em vez de sua habilidade e seu mérito individuais, ou acham que sua função tem pouca importância / valor social” (tradução livre, p. 854).

Você não precisa ser um novo Ph.D. para conhecer a síndrome do impostor. Por exemplo, talvez sua chefia o tenha nomeado para uma posição de liderança no trabalho. Você poderia se deliciar com essa validação de sua qualidade profissional e agradar sua autoestima, mas começa a inventar razões para acreditar que foi apenas um acaso. Ou, pode ir ainda mais longe, e pensar que toda a empresa realiza uma função tola, sem importância para a sociedade, e não vale o tempo ou esforço de ninguém.

3 manifestações da Síndrome do Impostor

A síndrome do impostor leva pessoas a pensar em maneiras que tornem seus esforços, sejam eles quais forem, carentes de valor.

“É claro que eu fui promovido, você viu o baixo nível do pessoal que contrataram ultimamente?”.

Assim, você sabota suas conquistas e se mantém cronicamente insatisfeito consigo mesmo. Então, o que fazer?

Minimizar seu campo de atuação

é a primeira manifestação da síndrome do impostor. Por exemplo, alguém pergunta sobre o que você faz, e você diz algo como: “Sou engenheiro. Eu e mais 20 milhões no Brasil!”. Referir-se, mesmo que em tom de piada, à irrelevância de sua função, ou ao fato de que não é especial, que é comum, é uma forma de manifestação da síndrome do impostor.

Minimizar seu conhecimento

é a segunda manifestação. Significa questionar não apenas sua área de realização, mas também o conhecimento que você tem sobre ela. Por exemplo, os recém-formados da pesquisa citada se achavam uma farsa porque, embora reconhecessem seu mérito acadêmico, duvidavam de sua aplicabilidade no “mundo real”.

Retornando ao exemplo do engenheiro, basta que lhe façam uma resposta mais difícil, cuja resposta ele desconheça, para que ele diga, em tom de ironia: “Que engenheiro sou eu que não sabe uma coisa dessas?”.

Minimizar suas conquistas

é a terceira manifestação. O alto nível de exigência que existe em muitas áreas do mercado de trabalho atual favorece que pessoas qualificadas sintam como se nunca fossem boas o suficiente. A pressão por desempenho e metas cada vez maiores mexe especialmente com a autoestima de pessoas propensas à síndrome do impostor. Métodos arbitrários ou injustos de recompensar a competência no ambiente de trabalho também incentivam o trabalhador a duvidar de sua capacidade. Finalmente, o desemprego é outro fator que contribui para a sensação de capacidade insuficiente, na medida em que leva pessoas a acreditarem que a dificuldade em achar emprego se deve a um problema delas, e não do sistema econômico.

A situação fica ainda pior quando você constantemente se compara a outras pessoas que parecem ter feito algo melhor que você. Talvez você ganhe um prêmio em um concurso local pela qualidade de seus produtos. Porém, em vez de aproveitar o feito com alegria, você se pega pensando que aquele prêmio não tem grande valor, afinal havia poucos concorrentes, um dos juízes foi seu colega de escola, alguém muito bom esqueceu de se inscrever etc…

Lutando contra a Síndrome impostor

Agora que expusemos as três manifestações da síndrome do impostor, é hora de falar sobre como enfrentar cada uma delas.

Para isso, os pesquisadores de Concórdia-Cambridge oferecem estratégias fáceis de aplicar.

1. Avalie sua área de especialização de modo mais realista: O que aconteceria se a função que você exerce não fosse realizada? A resposta a essa pergunta pode ajudar a mostrar a importância do que você faz. Ao compreender o valor intrínseco do seu campo de atuação, fica mais fácil perceber o mérito de seus esforços.

2. Tenha orgulho de seus próprios conhecimentos e ideias: O orgulho do que você faz deve ser consequência de suas habilidades, independentemente do número de “prêmios” ou mesmo do seu salário. Essas contingências externas são influenciadas por diversos fatores, não necessariamente ligados ao mérito. Quanto menos você se define pela atenção que recebe dos outros, mais próximo fica do autorrespeito.

3. Não se compare. Sim, haverá pessoas que ganham mais dinheiro ou elogios dentre aqueles que trabalham perto de você. Porém, quando a auto validação consegue garantir que sua atuação é consistente, não há como sentir-se uma farsa.

O mundo (e o mercado de trabalho, de modo especial) pode ser um ambiente particularmente competitivo e hostil. No entanto, quanto mais você exercitar a percepção de seu valor, mais provavelmente se sentirá verdadeiro e capaz.

Referência

Bothello, J., & Roulet, T. J. (2019). The imposter syndrome, or the mis-representation of self in academic life. Journal of Management Studies, 56(4), 854–861. https://10.1111/joms.12344


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