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9 sinais sutis de que você carrega um trauma infantil

Palavras-chave: trauma infantil; trauma de infância; parenting; trauma recovery; TEPT

Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 08 de abril de 2023


Há algumas semanas, recebi para primeiro atendimento um cliente brilhantemente bem-sucedido. É bastante conhecido em sua área, tem um trabalho que muita gente sonharia em ter (em termos de status e renda) e está noivo de uma mulher muito bonita.

No entanto, ele não é apenas um homem de sucesso. É um ser humano, como outro qualquer. E, recentemente, descobrimos juntos algo bastante curioso: ele aprendeu a buscar ser o melhor em tudo porque é desesperadamente carente do afeto de seus pais.

Em geral, as pessoas imaginam que um trauma infantil cria sempre adultos inseguros e sem sucesso. Quase ninguém espera que alguém como meu cliente tenha sido essa criança.

Porém, depois de um tempo trabalhando como terapeuta, conseguimos detectar quando a carência emocional tem origem precoce (e sinaliza um trauma infantil) por meio de sinais sutis.

Este post traz aqueles que se destacam para mim, e talvez não sejam tão óbvios para o público leigo.

Espero que possa ajudar.

trauma infantil

1. Você é super esforçado

Por vezes, os pais não conseguem validar a criança o suficiente. Validar é transmitir a informação de que ela (seus desejos, opiniões e atitudes) são legítimos. É elogiar, parabenizar, comemorar junto etc. Em algumas famílias, essa validação pode não ser constante, ou só acontecer quando a criança faz algo em que é melhor que todas as outras.

Nesse contexto, a criança percebe que precisa fazer muito esforço para conseguir a atenção positiva dos pais.

Pessoas que cresceram sob esse tipo de educação podem se transformar em workaholics ou desenvolver ansiedade crônica, por exemplo.

Vale dizer que a importância de validar a criança não implica concordar com tudo que ela diz ou faz. Trata-se de compreender e admitir a existência do que ela está se sentindo.

2. Você busca aceitação, carinho e admiração de todos (e de qualquer um)

O que acontece quando você não sente que recebeu amor suficiente de seus pais?

Você passa a procurar amor em outros lugares. Quanto maior a carência, maior o desespero por procurar amor…. em qualquer lugar.

Você sai com qualquer pessoa que queira sair com você, se submete a ser humilhado para participar do grupo dos “populares”. Ou se torna engraçado, ou aprende a fazer mágica, para que todos prestem atenção em você. Ou se envolve em relacionamentos com pessoas que parecem não se importar com você, reencenando a situação original com seus pais.

Você cresce acreditando que tem que disputar afeto e se mostrar merecedor dele.

3. Você tende a fugir da realidade concreta

Um trauma infantil intensifica a dureza da realidade concreta. Isso pode aparecer de muitas formas.

Para alguns, pelo consumo intenso de álcool e/ou outras drogas. Para outros, pelo consumo intenso de séries, jogos etc. Alguns podem chegar a preferir um mundo de fantasia à realidade concreta.

A fantasia pode ser o único espaço seguro para uma pessoa que cresceu carente de afeto. É onde ela pode se sentir o personagem principal de uma história, experimentando um protagonismo que não sente na dureza de sua realidade.

4. Você não suporta a ideia de depender de alguém… ou é muito dependente

Aqui, você tem duas possibilidades de lidar com seu trauma infantil e sua carência afetiva constitutiva.

  • Criar ao redor de si uma muralha “antiafeto”, e não suportar a ideia de depender de alguém. Essa não é apenas uma pessoa que “se basta”. É alguém que reage estranhamente, até com raiva (raiva é o tijolo da “muralha”), a qualquer indício de que alguém está se aproximando. É alguém cronicamente solitário, mesmo que conviva cotidianamente com muitas pessoas.
  • Viver aterrorizado pelo medo de perder as pessoas ao seu redor. Essa é uma pessoa possessiva e insegura, que precisa que os outros demonstrem que gostam dela a todo momento.

5. Você se exige / se cobra demais

A falta do amor desejado pode fazer uma criança acreditar que fez algo de errado, e que, por isso, seus pais a negligenciaram.

Você se pega pensando: “Se eu fosse mais inteligente / mais boazinha(bonzinho) /  bonita(o) / mais forte / mais masculino / mais feminina! Aí sim eu seria amada(o)!”

Curiosamente, você sente compaixão pelos outros. Compreende que as pessoas têm limites e cometem falhas. Mas não consegue aplicar isso a si mesmo.

6. Você demonstra amor com presentes

Muitas pessoas que tiveram uma infância emocionalmente carente não conseguem expressar afeto com palavras ou toques físicos. Tendem a utilizar coisas concretas que sabem que os outros gostam: dinheiro e presentes.

Não é que elas gostem da ideia de ser um “caixa eletrônico”. Elas apenas não conseguem demonstrar amor de outra forma.

7. Você tem dificuldade de falar sobre seus sentimentos

Imagine uma relação amorosa onde começam a surgir atritos.

Um dos parceiros pode dizer algo como: “Estou confuso com nossa relação. Gosto de você e das coisas que fazemos juntos. Mas nossos estilos de vida não são compatíveis e temo que isso nos impeça de continuar”.

Uma pessoa exposta à carência de afeto de seus cuidadores pode não ser capaz de exprimir isso. Assim, pode “empurrar” o relacionamento adiante, mesmo insatisfeita, ou tentar mudar seu parceiro para que ele se encaixe no seu desejo.

8. Pessoas acham você frio e distante

Por vezes, você se mostra aos outros como alguém que quase não tem emoções – e pode até se orgulhar disso. Você é inquietante para olhares mais sensíveis, que não fazem ideia de como é possível tanta “indiferença” emocional.

É assim que se apresentam muitas pessoas que se sentiram afetivamente negligenciadas. Emoções nos tornam vulneráveis, e ser vulnerável é um pesadelo para pessoas que, por exemplo, passaram a infância sendo punidas por seu choro, suas dores, doenças ou por seus desejos.

9. Você não fala de si

No item 2 (você busca aceitação…), você ainda acredita que é capaz de obter atenção dos outros.

Aqui, a situação é diferente. Sua validação como criança foi tão insuficiente que você aprendeu que suas necessidades e desejos simplesmente não importam.

Numa conversa – casual ou com alguém mais íntimo – você se interessa pelo outro – onde trabalha, do que gosta, o que pensa sobre certos assuntos. Mas não fala nada sobre si mesmo.

Profissionalmente, está sempre mais preocupado com os colegas, mesmo quando sua própria carga de trabalho excede o limite razoável. Em um relacionamento amoroso, seu parceiro pode sentir que sabe tão pouco de você que nunca conseguiu realmente sentir uma conexão.

Boa notícia: sempre há tempo para “desaprender” o que foi aprendido na infância. Esse é um dos grandes desafios da vida adulta. E um dos principais objetivos da psicoterapia. 😉


⚠️ Atenção: Este site não oferece tratamento ou aconselhamento imediato para pessoas em crise suicida. Você pode procurar o CVV (Centro de Valorização da Vida) ligando 188 ou acessando http://www.cvv.org.br (24 horas por dia, inclusive feriados). Ou procure um Caps (Centro de Atenção Psicossocial) da sua região. Em caso de emergência, procure atendimento em um hospital mais próximo.


https://rgpsicologia.com/

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