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O estranho ‘Efeito Mandela’: falsas memórias que conectam pessoas

Palavras-chave: efeito mandela; memórias falsas; memória; memórias fictícias

Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 06 de maio de 2023


Efeito Mandela é o nome dado a certo tipo de memória falsa de alcance coletivo.

O fenômeno leva o nome de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul. A morte de Mandela, em 2013, surpreendeu muita gente por um motivo – digamos – curioso. Na época, um número significativo de pessoas se pronunciou na internet alegando ter a nítida lembrança de que o opositor do Apartheid já havia morrido – mais especificamente, na década de 1980, enquanto era preso político.

A ocorrência desse tipo de crença grupal, que se assemelha a uma memória, foi constatada por um estudo recente, que será publicado na revista Psychological Science.

A pesquisa, realizada por estudiosos do Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago, obteve padrões consistentes, tanto no que as pessoas lembram, quanto no que falham em lembrar.


Escolha abaixo a imagem que representa corretamente o personagem Pikachu:

Efeito Mandela

(A imagem certa é a da direita, sem a faixa preta)


Se você errou, parabéns! É provável que tenha sido influenciado pelo Efeito Mandela.

Este fenômeno não acontece apenas com imagens. Por exemplo, muitas pessoas alegam que estavam vendo TV Globinho quando uma cena icônica do desenho — Goku reunindo forças para atingir o terceiro nível de Super-Saiayajin — foi interrompida para transmitir o plantão jornalístico sobre a queda das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.

Porém, de acordo com os registros do dia na emissora, o desenho nem chegou a ser exibido.

Efeito Mandela estudado pela ciência

O Efeito Mandela é fascinante porque revela que falsas memórias não se referem apenas a situações confusas, de que não temos certeza. Existem memórias falsas consistentes. Em outras palavras, somos capazes de manter guardado como memória algo que nunca vimos, ou que nunca aconteceu.

Os pesquisadores reuniram quarenta imagens, entre logotipos e ícones da cultura popular. Em seguida, adicionaram duas versões fictícias a cada uma delas.

Também solicitaram a alguns sujeitos que desenhassem imagens de memória, tentando verificar se estavam propensos aos mesmos tipos de erros que cometiam ao selecionar opções de imagens pré-estabelecidas.

A frequência de falsas memórias foi elevada.

As pessoas tendem a se mostrar confiantes ao escolher a imagem errada, mesmo estando familiarizadas com as imagens apresentadas.

Infelizmente, os pesquisadores não chegaram a conclusões afirmativas sobre as causas por trás do Efeito Mandela.

As experiências que temos ao longo da vida nos tornam indivíduos singulares. Logo, seria natural pensar que nossas memórias – verdadeiras ou falsas – fossem igualmente singulares.

Mas, surpreendentemente, essa não parece ser a realidade.

Essa consistência na produção de memórias falsas pode ter desdobramentos no futuro. Será possível prever e manipular a capacidade de uma imagem de produzir memórias falsas? O que isso pode significar em termos de design de logotipos, anúncios publicitários ou conteúdo educacional?


⚠️ Atenção: Este site não oferece tratamento ou aconselhamento imediato para pessoas em crise suicida. Você pode procurar o CVV (Centro de Valorização da Vida) ligando 188 ou acessando http://www.cvv.org.br (24 horas por dia, inclusive feriados). Ou procure um Caps (Centro de Atenção Psicossocial) da sua região. Em caso de emergência, procure atendimento em um hospital mais próximo.


https://rgpsicologia.com/

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