Palavras-chave: trauma infantil; sinais; infância
Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 12 de julho de 2023
Um trauma infantil pode se manifestar de formas sutis.
Aqui vão alguns sinais comportamentais pouco conhecidos.
1. Anacronismo emocional
Pessoas que tiveram traumas emocionais na infância muitas vezes não conseguem estar plenamente no momento presente. É como se estivessem sempre ligeiramente recuadas da realidade, observadores da própria vida. Seus corpos estão ali, mas não vivenciam suas emoções em tempo real.
Por exemplo, imagine que você cresceu em um lar onde havia muitas brigas. Certa noite, ocorre uma confusão feia entre seus pais. No dia seguinte, você acorda preocupado e tenta se aproximar carinhosamente de um de seus genitores para perceber como ele(a) está.
No momento da briga, você estava ocupado tentando não “surtar” e permanecer seguro – estava paralisado, provavelmente.
2. Correndo muito por nada
Você já se pegou andando muito rápido sem motivo? Ou cumprindo tarefas do dia a dia como se estivesse sempre com pressa?
Pessoas que lhe conhecem talvez já tenham perguntado: ‘Vai tirar o pai da forca?
Esse é um possível efeito de crescer em uma família onde você sentia que qualquer passo em falso podia ter consequências ruins (punições, desavenças) para você ou para os outros.
É como se você precisasse correr para evitar um desastre que não sabe qual é, nem quando virá.
3. Depressão “zumbido de geladeira”
Imagine que você tem uma geladeira que faz um barulhinho há meses.
Um dia você está passando por ela e percebe: “Que som é esse? Essa geladeira sempre fez esse zumbido?”.
Mas o que isso tem a ver com trauma infantil?
Você não sabe que está deprimido porque é assim desde a infância.
Pode vir de um acúmulo de situações estressantes da infância que fizeram com que você se “desligasse”. Certas emoções nunca foram processadas, e ainda estão lá.
Durante a infância, foi um mecanismo de proteção. Mas hoje mantém você numa atitude disfuncional perante a vida.
4. Estar cansado é um problema
Você associa a reação natural de cansaço físico à tristeza ou ao fracasso. O cansaço pode ser gatilho para rememorar situações de abandono, em que seus esforços não foram recompensados, ou de negligência.
Você pode se tornar uma pessoa viciada em se sentir produtiva.
Além disso, você pode não gostar de descanso porque sente que o relaxamento tira você do estado de alerta constante citado no item 2 (que podemos chamar de “hipervigilância”).
5. Modo “camaleão sem forma“
Quando criança, você foi exposto a muitas situações que provocaram sua capacidade de se adaptar. Naquele momento, ainda não existia uma identidade, um “eu autêntico”. Ou seja, você aprendeu a assumir diversas personas diferentes antes de saber quem realmente era.
Hoje, tem a habilidade de se adaptar a quase qualquer contexto, mas extrema dificuldade de conhecer sua verdadeira identidade – Do que eu gosto? Quais meus objetivos de vida? Quais meus limites?
6. Chamar a atenção é um problema
Em um lar tóxico, chamar a atenção pode não ser uma boa ideia.
Em vez de receber carinho, você seria repreendido – “não enche o saco, criança!”. Assim, você aprendeu a associar “chamar a atenção” a “ser atacado”.
Apresentar um relatório no trabalho ou pessoas cantando os parabéns no seu aniversário são situações assustadoras.
7. Rir da própria dor
Você consegue falar rindo ou brincando, ou faz piada sobre situações ruins de sua infância.
Não está conectado à gravidade do que fala, e isso funciona como defesa da dor.
Você não leva a sério o peso do seu passado, porque ninguém o fez.
Além disso, em sistemas familiares tóxicos, experiências emocionais podem ser comumente alvo de zombaria.
8. Procrastinação ou inação
Sofrer abuso ou negligência emocional na infância, em que você aprende que nunca é bom o suficiente em nada, pode fazer acreditar que as coisas correm melhor por conta própria – ou seja, sem a sua intervenção.
Obrigado por ler até o final.
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