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A sexualidade do narcisista e as fantasias homossexuais

Palavras-chave: narcisista; narcisismo; sexualidade; freud

Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 25 de setembro de 2023


Nosso primeiro amor é por nós mesmos.

Com pouco tempo de vida, aprendemos a obter prazer com nosso corpo, e percebemos o mundo como extensão desse corpo, que satisfaz todas as nossas necessidades e desejos. Todo nosso investimento amoroso é autocentrado.

Somos “Sua majestade, o bebê”, como comentou Freud.

Essa plenitude que vivemos é garantida por mamãe (ou outra pessoa que funcione como cuidadora primária), mas não sabemos. O conceito de “outra pessoa” não existe ainda.

Mas esse conforto total não dura. Nem a mais zelosa das mães consegue atender imediata e plenamente nossas vontades. Somos paulatinamente frustrados da satisfação completa de nossos quereres. Assim, vamos percebendo o mundo como um “outro” separado e independente de nós.

Surge um narcisista

Para resumir bastante a história, um dia entendemos que nossa satisfação depende desse “outro”, e não apenas de nós mesmos. Precisamos aprender a amar esse outro que vai além de nós mesmos. Só assim sobreviveremos.

Pois bem. Se a relação desse “outro” (realidade externa) conosco é de cuidado e carinho, conseguimos ultrapassar a “decepção” de não sermos onipotentes sem problema, e nos tornamos capazes de amar genuinamente outros seres humanos.

No entanto, se essa relação é fonte de sofrimento e trauma (como ocorre num ambiente de maus tratos, por exemplo), não nos sentimos seguros para dedicar amor para fora de nós, e a capacidade de amar o outro não se desenvolve.

Pelo contrário, quando a realidade nos faz sofrer, nossa tendência é querer distância do outro, ou até aniquilá-lo psiquicamente. Essa é a configuração do narcisista.

É por isso que “Narciso acha feio o que não é espelho”. O narcisista só consegue dirigir seu amor ao próprio ego.

A complexa sexualidade humana

Desde Freud, e cada vez mais com o avanço da ciência, sabemos que a sexualidade humana é mais complexa do que o senso comum admite.

Em vez de nos situar em um de dois polos opostos – a hetero ou a homossexualidade – a natureza sexual humana nos dispõe ao longo de um continuum entre essas possibilidades. A maioria de nós está em algum lugar intermediário (Fig. 1). Isso significa que desejos e fantasias hetero e/ou homossexuais podem ocorrer a qualquer pessoa, independentemente de sua manifestação predominante (hetero ou homossexual).

Homo |________|________|________|_________|___________| Hetero (Fig. 1)

Logo, um sujeito de comportamento estritamente heterossexual pode ter desejos e fantasias homossexuais, e vice-versa.

A sexualidade narcisista

Isso também é verdade para o narcisista. Aliás, é bastante comum que o narcisista heterossexual tenha desejos e fantasias homossexuais, afinal os “espelhos” são seu grande e único amor.

Mas o narcisista frequentemente usa o “outro” como marionete para realizar essas fantasias.

Quando identifica em si fantasias e desejos homossexuais – e os considera inadequados – o narcisista busca realizá-los, não por meio do seu próprio comportamento, mas manipulando o comportamento do outro.

Práticas e fantasias sexuais narcisistas

Pela minha experiência clínica, as “vítimas” dessa dinâmica costumam ser do sexo feminino. São pessoas empáticas, com algum nível de dependência emocional e baixa autoestima.

Você pode saber mais a esse respeito no meu texto 5 SINAIS DE QUE VOCÊ PODE ESTAR NAMORANDO UM NARCISISTA

O narcisista, que já usa cotidianamente a parceira para admirá-lo, amá-lo, bajulá-lo… mantendo-o abastecido em sua necessidade infinita de amor e dedicação, também pode levá-la a práticas sexuais que ela não aprecia, como artimanha (inconsciente) para satisfazer os próprios desejos homossexuais.

Dentre as possibilidades de práticas desse tipo, algumas me parecem as mais comuns:

Swing:

O homem narcisista pode convencer sua parceira a se engajar em práticas sexuais com outros homens, apenas para assistir. Sexo em público com estranhos (dogging), ménage e casas de swing são modalidades comuns. Nesses casos, observar a parceira em atos sexuais com pessoas do sexo masculino são uma forma de satisfazer desejos sexuais homossexuais de natureza inconsciente. Para a psique do narcisista, naqueles momentos, a parceira cumpre o papel de extensão do corpo dele.

Sexo anal forçado:

Para o homem “ativo”, o sexo anal independe da genitália da(o) parceira(o), e por isso é uma possibilidade de encenação homossexual dissimulada. Pode ser acompanhado de práticas de humilhação e violência. Nesse contexto, o sexo anal não é apenas um meio de obter prazer, mas uma representação de posse e controle sobre a parceira, principalmente quando é contrária à vontade dela e a faz sentir dor.

A sexualidade narcisista não é uma troca. Às vezes, mulheres que tiveram parceiros narcisistas, depois que conseguem se separar, se dão conta de que muitas vezes foram estupradas por ele, uma vez que seu consentimento era sistematicamente desconsiderado.

Nenhuma prática sexual implica, necessariamente, a existência de um parceiro narcisista, e não há qualquer problema quando os atos são consentidos. A ideia aqui é apresentar possibilidades de expressão narcísica, situação que costuma ser fonte de sofrimento para a outra parte envolvida.

Na maioria das vezes, tais práticas sexuais são suportadas pela parceira porque ela acredita que só assim manterá o parceiro, e a perspectiva do abandono é assustadora. Ela acredita que deve se sacrificar para dar prazer ao parceiro.

Como identificar a manipulação sexual narcisista

Existem alguns sinais úteis para identificar a manipulação sexual narcisista.

Por exemplo, quando o homem não consegue ter relações sexuais plenas sem recorrer a uma das práticas de subjugação listadas acima. Ou quando, na ausência destas, a relação com a parceira depende sempre de outros estímulos, como masturbação, conteúdo pornográfico ou medicamentos para disfunção erétil.

narcisista

A dificuldade do sujeito narcisista de admitir interesse sexual por pessoas do mesmo sexo também pode se expressar como repúdio e preconceito por pessoais homo ou bissexuais.

Se você se identificou com esse conteúdo, vale a pena refletir sobre seu relacionamento. Se for o caso, procure ajuda. Você não precisa sofrer sozinha.


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