Palavras-chave: músicas machistas; saúde mental da mulher; letras de músicas; machismo; feminismo
Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 06 de novembro de 2023
Sobre quais assuntos falam as músicas que fazem mais sucesso? Um estudo da Universidade Estadual da Pensilvânia tentou responder essa questão.
Foram avaliadas mais de 1.000 músicas de diferentes gêneros, entre as mais tocadas de 1998 a 2018, segundo dados dos institutos Nielsen Music e da Billboard.
Os pesquisadores identificaram 46 temas nas letras dessas canções, e classificaram cada um deles como negativo, neutro ou positivo.
Ao comparar a frequência dos temas ao longo dos 10 anos analisados, o estudo verificou um aumento de 180% nos temas considerados “negativos”, em especial para as mulheres, como violência doméstica, infidelidade, racismo, objetificação e misoginia.
Saúde mental das mulheres e músicas machistas
Essa tendência aponta para um problema ainda mais profundo.
Pesquisa da Associação Americana de Psicologia já havia revelado que a sexualização de meninas e mulheres na mídia tem impacto negativo na saúde mental, dentre os quais estão vergonha, baixa autoconfiança, baixa autoestima, depressão e transtornos alimentares.
Ou seja, as músicas machistas veiculam mensagens depreciativas que alimentam uma crise de saúde mental que já existe entre mulheres jovens. De acordo com pesquisa de 2021 da instituição estadunidense Centers for Disease Control and Prevention (CDC), 30% das meninas do grau equivalente ao nosso ensino médio consideraram seriamente o suicídio, taxa 60% maior do que a encontrada há dez anos, e 20% sofreram estupro ou violência sexual. Desde 2006, as taxas de suicídio dobraram entre as adolescentes nos Estados Unidos.
Machismo e seus produtos culturais
Um importante motivo para o prejuízo na saúde mental dessas meninas está no modo como a objetificam fornece aos jovens meninos e homens adultos uma validação da tendência histórica ao rebaixamento da mulher. De fato, o machismo e seus produtos se alimentam de qualquer discurso com alcance social. Portanto, não seria diferente no caso da música com conteúdo sexista / machista.
O sexismo e suas consequências para a saúde mental estão enraizados no tecido de nossa sociedade, e a música reflete isso. Por um lado, os músicos de sucesso não são responsáveis por esse quadro, nem podem revertê-lo sozinhos. No entanto, sua obra implica escolhas. Amplificar ou não os fatores que hipersexualizam e objetificam as mulheres – eis a questão.
Como público, nossa responsabilidade está no tipo de música que apreciamos e consumimos; cada clique numa playlist, cada ingresso para show, tudo pode contribuir para a maior ou menor visibilidade desse conteúdo sexista – e para sua influência na saúde mental e nas relações sociais.

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