6 mitos sobre traumas psicológicos

Palavras-chave: traumas psicológicos; sofrimento psíquico; saúde mental

Por Psicólogo Rodrigo Giannangelo | Publicado em 22 de abril de 2024


Trauma é uma resposta a circunstâncias adversas que tem efeitos negativos duradouros no bem-estar mental e/ou físico de alguém.

A definição acima dá uma noção básica sobre o que são traumas psicológicos.

No entanto, a questão se torna complexa quando tentamos definir o que são circunstâncias adversas. A intensidade do que é “adverso” depende de fatores como a maturidade do sujeito e sua capacidade de compreender o que lhe acontece. Portanto, é subjetiva.

Quanto mais precocemente a adversidade nos atinge na vida, mais imaturos nos encontra. Logo, maior seu potencial traumático, de deixar marcas duradouras.

Porém, apesar de ser uma realidade dolorosa, o sofrimento psíquico é socialmente estigmatizado. Há até mesmo quem o romantize, especialmente agora que a conscientização sobre a saúde mental recebe mais atenção. Apesar do fortalecimento de campanhas de esclarecimento, os equívocos ainda são frequentes.

Conheça aqui seis desses equívocos ou mitos sobre traumas psicológicos.

traumas psicológicos

Mito 1 – Sofrimento psíquico é fraqueza

“Quando meu pai morreu, precisei cuidar sozinho do enterro, então tive que ser forte”.

Muitos fatores afetam a maneira como alguém reage a um evento traumático. Duas pessoas podem passar pela mesma experiência, e reagir de maneiras muito diferentes. Mas essas reações não têm qualquer relação com “força” ou “fraqueza” psicológica.

A ideia de que a pessoa “forte” é aquela capaz de suportar o sofrimento sem demonstrar é, ao mesmo tempo, um errônea e perigosa. Errônea porque a atitude de admitir e expressar o sofrimento, em uma sociedade que o estigmatiza, requer coragem e bravura; portanto, força. E perigosa porque incentiva pessoas a se calarem diante de sentimentos potencialmente danosos e com efeito nocivo quando não tratados precocemente.

Reescrevendo a frase acima, poderíamos ter algo como “Quando meu pai morreu, precisei cuidar sozinho do enterro. Como aprendi que demonstrar sentimentos é sinal de fraqueza, achei que devia calar o que sentia”.

Mito 2 – Traumas psicológicos destroem a vida para sempre

Muitos indivíduos que sofreram um trauma o superam com terapia e tempo. Além disso, enquanto se recuperam de seus traumas psicológicos, ainda são capazes de ter vidas plenas de significado e propósito.

O sofrimento tem sintomas invisíveis. Um corretor de imóveis que fechou uma venda e comemorou ainda pode sofrer de trauma. Um artista com reconhecimento mundial pode ser vítima de trauma e ainda ver sentido e alegria em compartilhar seus talentos.

Há também um aspecto paradoxal do trauma: algumas pessoas transformam seu trauma em paixão e realizam grandes atos, como uma pessoa que sofreu abuso na infância e funda uma ONG para cuidar de crianças abusadas.

Mito 3 – Amor e apoio são suficientes para curar traumas psicológicos

O apoio de uma rede social pode ajudar na recuperação de pessoas que sofreram com traumas, mas não garante a cura.

A recuperação do trauma é um processo complexo, e aqueles que passam por ele merecem contar com todos os recursos disponíveis.

Então, nunca diga a uma pessoa que sofre que ela não pode estar assim só porque tem uma rede social amorosa e solidária.

Mito 4 – Traumas psicológicos envolvem um único evento muito doloroso

Um trauma psicológico pode se desenvolver ao longo de anos. Nesse caso, se instala não pela intensidade pontual, mas pela constância. Abusos (físicos ou psicológicos), negligência emocional e outros eventos danosos têm efeito cumulativo.

Isso pode tornar mais difícil compreender e rastrear as causas do trauma psicológico.

Mito 5 – Situações traumáticas atingem as pessoas com a mesma intensidade

Temos maneiras diferentes de perceber o mundo, suportar adversidades e processar experiências pessoais. Alguns conseguem atravessar sem percalços, enquanto outros, especialmente aqueles que já carregam cargas emocionais, são mais propensos ao trauma psicológico.

O histórico familiar, a sensibilidade emocional e possíveis comorbidades influenciam a maneira como alguém reage ao trauma, bem como o modo de se recuperar dele. Logo, o que foi traumatizante para uma pessoa pode não ser para outra, independentemente do grau de semelhança entre as experiências que tiveram. Mesmo entre adultos maduros, não se pode julgar a validade de um trauma pares, especialmente se ele decorre da infância – fase em que somos mais vulneráveis a danos emocionais duradouros.

Mito 6 – A cura de traumas psicológicos depende do ‘perdão

“Você tem que perdoar!” Talvez você já tenha ouvido isso. Muita gente acha que o perdão é essencial para a cura.

Por quê? Porque “perdoar quem nos fez mal não é algo que você faz por eles, mas por si mesmo”. Para você ter a paz.

Primeiro, isso costuma ser mais fácil dizer do que fazer. Segundo, em relação ao trauma, é mais um mito do que um fato.

Vítimas de abuso e negligência não são obrigadas a perdoar quem lhes causou dor, nem que seja “por si mesmas”. O perdão pode fazer parte da jornada de cura, mas não é pré-requisito.  É cruel obrigá-las a perdoar aqueles que as prejudicaram. É como culpá-las pelo próprio trauma.

A cura não é responsabilidade exclusiva da pessoa que sofre um trauma. É responsabilidade da sociedade superar o estigma e criar um ambiente que promova a aceitação e o bem-estar mental.


Caro leitor: Se este artigo fez sentido pra você ou ajudou a se sentir compreendido, vale a pena se inscrever na minha newsletter. Compartilho conteúdos exclusivos sobre saúde mental e qualidade de vida. Você pode participar CLICANDO AQUI

Imagens: Freepik.com

Siga e compartilhe em:

Deixe uma resposta

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com
Instagram
YouTube
YouTube
Newsletter gratuita

Descubra mais sobre RG Psicologia

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading

Rolar para cima